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<strong>Viagem</strong> <strong>ao</strong> <strong>Brasil</strong> 233<br />

O acará. A história do Acará, esse peixe singular que traz os seus<br />

filhotes na boca se torna cada dia mais maravilhosa. Esta manhã, Agassiz partiu<br />

reconhecer uma relação de estrutura muito mais estreita entre eles. Esta relação no entanto,<br />

realmente existe. A forma extr<strong>ao</strong>rdinária por que são educados os filhotes, que caracteriza os<br />

representantes do antigo gênero Syngnathus, só tem como equivalente a forma não menos curiosa<br />

de incubação dos ovos em Loricaria. Quanto às demais famílias que têm representantes na bacia do<br />

Amazonas, raias, tubarões, tetrodontes, pleuronectídios, escomberesócios, anchovas, arenques e<br />

outros da famíilia dos clupeóides, murenóides, cienóides verdadeiros, gobióides, etc., são conhecidos<br />

principalmente como peixes marinhos. Os ciprinodontes se encontram por toda parte tanto<br />

n’água doce como salgada. Os ginnotinos só são até agora conhecidos como peixes d’água doce, e<br />

não vejo com que tipo marinho poderá ser comparado. Não poderá ser com os murenóides, <strong>ao</strong>s<br />

quais foram associados até hoje, a única afinidade real que neles descubro é com os Mormiros do<br />

Nilo e do Senegal ou com os Notópteros dos mares da Sonda. Os peixes anquiliformes não podem<br />

de modo algum ser referidos uns <strong>ao</strong>s tipos dos outros, pois a sua forma alongada de tão variado<br />

modelo não fornece a indicação de nenhuma correlação. Pode-se, todavia, inferir do que precede<br />

que os peixes do Amazonas possuem, no seu conjunto, um caráter marinho que lhes é exclusivo e<br />

que não se encontra em todos os outros animais da mesma classe que povoam os outros grandes rios<br />

do mundo.<br />

Tal particularidade se estende a outras classes além da dos peixes. Há muito que se sabe que, entre<br />

as conchas bivalvas, o Amazonas possui exclusivamente alguns gêneros de naiades próprios de suas<br />

águas, ou então só os possui em comum com outros grandes cursos d’água da América do Sul. Tais<br />

são Hyria, Castália e Mycetopus, a que acrescentarei um outro gênero encontrado nos unios falciformes<br />

e comum às duas Américas. Mas a semelhança frisante de Hyria com Avícula, de Castalia e de Arca,<br />

de Mycetopus e Solen, etc., parece haver escapado à atenção dos conchiologistas. Eis a repetição<br />

ainda do tipo marinho numa família exclusivamente limitada às águas doces, possuindo uma<br />

estrutura própria, inteiramente distinta da dos gêneros marinhos de que reproduz quase fielmente<br />

a aparência. Fazendo esses confrontos, não me posso abster de notar que seria pueril ver nessas<br />

semelhanças grosseiras o índice duma comunidade de origem. Certas conchas terrestres lembram<br />

também formas marinhas; algumas espécies da tribo dos Bulimus, por exemplo, se assemelham <strong>ao</strong>s<br />

gêneros Phasianella e Littorina muito mais do que <strong>ao</strong>s seus próprios aliados. A semelhança é<br />

sobretudo frisante nas franjas do bordo anterior do pé. As ampulárias lembram também, numa certa<br />

medida, um dos gêneros marinhos Struthiolarius, Natica, etc., e vários fósseis desta última família<br />

foram confundidos com as ampulárias d’água doce.<br />

O traço mais saliente da fauna amazônica, aquele donde ressalta melhor o seu caráter oceânico,<br />

é entretanto a abundância de cetáceos que se observa em toda a extensão da bacia. Em todas as<br />

águas do grande rio por mim percorridas, desde Pará, onde as marés fazem refluir ainda as águas<br />

salgadas sobre o rio, até Tabatinga, na fronteira do Peru em todos os tributários, grandes ou<br />

pequenos, do rio gigante; nos lagos em comunicação com o seu leito sempre variável, eu vi os<br />

cetáceos dando as suas cambalhotas e resfolegando com um ritmo uniforme quando nada vinha<br />

perturbar a sua respiração. Principalmente à noite, quando estávamos tranqüilamente fundeados,<br />

quanta vez não fomos bruscamente despertados pelo barulho que eles fazem, subindo à tona<br />

d’água, para expelir com força o ar que ficara muito tempo, debaixo d’água, guardado nos<br />

pulmões. Observei cinco espécies diferentes dessa ordem de animais nas águas do Amazonas;<br />

quatro pertencentes à família dos marsuínos e uma do lamantino. * O Sr. Burkhardt desenhou<br />

três delas do natural, e espero dentro em pouco obter representações fiéis das duas outras quando<br />

lhes fizer a descrição comparativa. Um dos marsuínos pertence <strong>ao</strong> gênero Inia e pode ser<br />

observado até nos afluentes superiores do Amazonas, na Bolívia; um outro se parece mais com o<br />

nosso marsuíno comum, <strong>ao</strong> passo que um terceiro lembra o delfim do litoral, porém não pude<br />

determinar se algum deles é idêntico às espécies marinhas. Em todo caso o marsuíno preto da<br />

baía de Marajó, que é muitas vezes visto nas proximidades de Pará, é inteiramente diferente das<br />

espécies cinzentas que se observam mais para dentro do rio. (L. A.)<br />

* Marsuíno e lamantino são termos da nomenclatura universal que, aqui, se referem <strong>ao</strong>s “botos” e<br />

“peixes-bois”. (Nota do tr.)

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