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254 Luís Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz<br />

Caráter das danças. As danças se diferençavam das que assistimos<br />

em casa de Esperança; eram muito mais animadas, porém as damas<br />

conservavam aquele mesmo ar impassível que já assinalei. Nunca vi a mulher,<br />

nesses divertimentos dos índios, demonstrar faceirice provocante; é o<br />

homem que solicita; ele se atira <strong>ao</strong>s pés da dama sem lhe arrancar um gesto<br />

ou um sorriso; pára, finge que está pescando, e a sua pantomima indica que<br />

ele está pescando a moça na ponta do seu anzol; em seguida, gira em torno<br />

dela, fazendo estalar seus dedos como castanholas, e termina por agarrá-la<br />

pela cintura com os seus dois braços. Mas ela continua fria e como que<br />

indiferente. Em certos intervalos, os pares se unem numa espécie de valsa,<br />

mas é só de passagem e por alguns segundos. Que diferença da dança dos<br />

negros a que tantas vezes assistimos nos arredores do Rio! Nessas, é a dama<br />

que provoca o seu cavalheiro, e os seus gestos não guardam sempre uma<br />

modéstia perfeita.<br />

Uma noite ruidosa e a animação estava no auge quando, às<br />

dez horas, eu me recolhi <strong>ao</strong> quarto, ou antes à saleta, em que estava armada<br />

a minha rede. Devia, no entanto compartilhá-la com as índias e seus filhos,<br />

com uma gata e seus gatinhos já instalados nas pontas do meu mosquiteiro<br />

e fazendo freqüentes investidas para cima de mim, e galinhas, pintos e toda<br />

uma matilha de cães, vindo sem cessar de dentro para fora e de fora para<br />

dentro. A música e a dança, os risos e as conversas se prolongaram pela noite<br />

adentro.<br />

A cada instante, um índio entrava para repousar um pouco,<br />

deitava-se numa rede, fazia um ligeiro sono e voltava para dançar. Nos primeiros<br />

tempos de nossa chegada à America do Sul, não julgávamos ser<br />

possível conciliar o sono em tais condições; mas a gente se acostuma depressa<br />

na Amazônia a dormir em quartos sem assoalho nem ladrilho, fechados<br />

por muros de terra ou mesmo não fechados de todo, cobertos por um<br />

telhado de palha, cujas folhas secas os ratos e os morcegos fazem estalar e<br />

onde barulhos noturnos misteriosos nos convencem que o homem não é<br />

ali o único ocupante. Há, aliás, uma coisa graças à qual é muito mais agradável<br />

passar a noite na choça de um índio do que na choupana dum indigente<br />

de nosso país: é a perfeita independência que se tem a respeito do<br />

lugar de dormir em relação <strong>ao</strong>s moradores. Ninguém viaja sem a sua rede e<br />

o filó cerrado que é a única coisa capaz de proteger contra os mosquitos.<br />

Camas e roupas de cama são perfeitamente desconhecidas, e não há pessoa

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