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360 Luís Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz<br />

no <strong>Brasil</strong> tendia a estabelecer um sistema organizado de trabalho, que é lastimável<br />

não tenha sido continuado. 163<br />

Todos os vestígios das antigas missões jesuíticas atestam que elas<br />

constituíam centros de trabalho. Esses religiosos acabavam por fazer penetrar,<br />

mesmo na alma do índio vadio, como um pálido reflexo do seu espírito de<br />

perseverança infatigável, uma tenacidade invencível. Anexavam estabelecimentos<br />

agrícolas a todas as missões indígenas, e, sob a direção dos padres, o selvagem<br />

aprendia um pouco de agricultura. Os jesuítas cedo perceberam que as<br />

artes agrícolas deviam ser, num país tão fértil, o grande agente civilizador.<br />

Introduziram-lhe, portanto, grande variedade de grãos e outras plantas alimentícias;<br />

tiveram rebanhos de gado em lugares onde hoje é este quase desconhecido.<br />

Humboldt, falando da destruição das missões jesuíticas, diz a propósito<br />

dos índios atures, do Orinoco: “Outrora obrigados <strong>ao</strong> trabalho pelos<br />

jesuítas, esses índios não sentiam falta de alimentos. Os padres cultivavam<br />

milho, os feijões de França e outras plantas européias. Haviam mesmo plantado<br />

laranjeiras e tamarineiras em volta dos aldeamentos e possuíam trinta<br />

mil cabeças de bois e cavalos nas savanas de Atures e Charicana. Depois de<br />

1795, o gado dos jesuítas desapareceu por completo. Como marco comemorativo<br />

da antiga prosperidade agrícola desses campos e da atividade industrial<br />

dos primeiros missionários, não restam senão alguns pés de laranjeiras e<br />

tamarineiros cercados de árvores selvagens”.<br />

Geologia de Marajó. Nossa excursão pela aldeia de Soure nos<br />

levou às ribanceiras baixas das margens, que havíamos distinguido de bordo.<br />

Por todo o litoral da ilha dominam as mesmas formações que se vêem <strong>ao</strong><br />

longo de todas as margens do Amazonas. Inferiormente, existe um grés um<br />

163 Eis uma apreciação contra a qual me vejo na obrigação de reagir. Visitei em 1857 as antigas<br />

“Reduções” do Uruguai e do alto Paraguai; vi de perto os paraguaios. O sistema dos jesuítas,<br />

baseado na absoluta submissão à autoridade, que só ela podia prever e decidir, e resumindose,<br />

quanto <strong>ao</strong>s frutos do trabalho, numa espécie de comunismo patriarcal, estava em condições<br />

de assegurar a subsistência dos índios, e nada mais. Era impotente para elevar o nível<br />

intelectual e moral dos indígenas; era-lhe interdito iniciar nas artes da civilização homens a<br />

quem recusavam todo o direito de pensar, toda iniciativa, todo comércio com as outras raças.<br />

A história do Paraguai, onde o sistema não cessou de funcionar desde a expulsão dos jesuítas<br />

até os nossos dias, prova que tal sistema outra coisa não era que um despotismo esmagador,<br />

habilmente dissimulado sob formas doces e paternais na aparência. Era a absorção completa<br />

das forças da massa, verdadeiro gado humano, em proveito daqueles que governavam. A<br />

pretensa república paraguaia, não é uma nação, é uma empresa agrícola. (V. Demersay,<br />

História do Paraguai.) (Nota da trad. francesa.)

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