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144 Luís Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz<br />

escravidão se extinga por si. Infelizmente isto não caminha depressa, e a instituição<br />

prossegue, sem parar, na sua obra infernal: a depravação e o enervamento<br />

tanto dos pretos como dos brancos.<br />

Os próprios brasileiros não o negam; a todo instante ouvem-se<br />

de sua parte queixas sobre a necessidade que têm de se separarem de seus filhos<br />

para mandá-los educar longe da influência perniciosa dos escravos domésticos.<br />

De fato, se, do ponto de vista político, a escravidão apresenta no <strong>Brasil</strong>,<br />

mais do que noutra qualquer parte, a probabilidade duma feliz terminação, é<br />

nele, sob o ponto de vista moral, que se patenteiam algumas das características<br />

mais revoltantes dessa instituição que aí parecem mais odiosas ainda, se<br />

possível, que nos Estados Unidos.<br />

Um casamento de negros. Tive ocasião de assistir, faz alguns<br />

dias, nas proximidades do Rio, <strong>ao</strong> casamento de dois negros. O senhor tornara<br />

obrigatória então a cerimônia religiosa, ou, antes, irreligiosa, penso eu. A<br />

noiva, preta como azeviche, estava vestida de musselina branca e trazia um<br />

véu dessa renda grosseira que as negras fazem elas mesmas; o noivo vinha<br />

vestido de linho branco. A jovem nubente parecia, e acho que realmente o<br />

estava, muito pouco à vontade, porque estavam presentes muitas pessoas estranhas,<br />

e a sua posição não deixava de ser embaraçosa. O padre, um português<br />

de ar arrogante, olhar ousado, interpelou os noivos, e, com a precipitação<br />

menos respeitosa, lhes dirigiu algumas rudes palavras sobre os deveres do<br />

matrimônio, interrompendo-as várias vezes para censurar a ambos, e principalmente<br />

a ela, porque não praticava os ritos com tanta rudeza e brutalidade<br />

como ele. Mais com um tom de imprecação do que de prédica, ordenou-lhes<br />

que se ajoelhassem diante do altar; depois, tendo dado a bênção, gritou um<br />

amém, jogou ruidosamente o livro das orações sobre o altar, apagou os círios<br />

e despediu os recém-casados da mesma forma que teria expulsado um cão<br />

para fora da igreja. A moça saiu, sorrindo por baixo de suas lágrimas, e a sua<br />

mãe, aproximando-se dela, espargiu-lhe na cabeça uns punhados de pétalas de<br />

rosa. Assim se cumpriu esse sacramento, no qual a graça única que me pareceu<br />

descer sobre a novel esposa foi a bênção materna.<br />

Se essas pobres criaturas refletissem, que estranha confusão não<br />

se faria em seu espírito! Ensinam-lhes que a união do homem e da mulher<br />

é um pecado, a menos que não seja consagrada pelo santo sacramento do<br />

matrimônio. Vêm buscar esse sacramento, e ouvem um homem duro e<br />

mau resmungar palavras que eles não entendem, entremeadas de tolices e

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