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<strong>Viagem</strong> <strong>ao</strong> <strong>Brasil</strong> 73<br />

ou vindas de mais longe. Próximo à última estação, há uma grande exploração<br />

rural ou fazenda, que produz, segundo nos disseram, cinco a seis mil<br />

quintais de café nos bons anos. Essas fazendas são edifícios de aspecto singular,<br />

baixos (comumente de um só andar) e muito compridos; as maiores<br />

cobrem uma área considerável. Como se acham inteiramente isoladas e afastadas<br />

das demais habitações, os que nelas moram têm que fazer provisão de<br />

tudo o que é preciso para as suas necessidades. Isto conserva nos proprietários<br />

costumes meramente primitivos. O Major Ellison contou-me que uma<br />

vez, e não há muito tempo, uma opulenta marquesa que morava um pouco<br />

longe no interior, dirigindo-se à cidade para uma demora de algumas semanas,<br />

fez parada em casa dele para descansar da viagem, vinha acompanhada<br />

por uma tropa de trinta e uma bestas de carga conduzindo toda a bagagem<br />

imaginável, sem contar as provisões de toda espécie, galinhas, presuntos,<br />

etc. e vinte e cinco criados a acompanhavam. A hospitalidade dos brasileiros,<br />

segundo se afirma, não conhece limites; basta alguém se apresentar à<br />

porta no fim de uma jornada de viagem e, desde que o forasteiro não tenha<br />

lá uma cara muito má, pode estar certo de receber uma acolhida cordial, um<br />

jantar e uma cama. O pedido de um amigo, uma carta de recomendação,<br />

abre-vos todas as portas da casa, e podeis demorar o tempo que quiserdes.<br />

Fizemos as três últimas milhas do percurso sobre o que chamam<br />

a “estrada provisória”, que será abandonada logo que fique concluído<br />

o grande túnel. Confesse-se que, para um viajante não experimentado, essa<br />

estrada deve parecer excessivamente perigosa, sobretudo na parte que está<br />

apoiada, com um declive de quatro por cento, numa ponte de madeira de<br />

20 metros de altura, descrevendo uma curva muito fechada. Quando vimos<br />

a máquina passar por esse plano inclinado, e que, debruçando-nos um<br />

pouco, percebemos o horror do precipício, depois, quase na nossa frente, o<br />

último carro do trem que dobrava a curva, foi difícil resistir <strong>ao</strong> sentimento<br />

do perigo. Se um fato pode dar a compreender a confiança que merece a<br />

administração dessa estrada de ferro, basta lembrar que nenhum acidente<br />

foi registrado nessas circunstâncias em que a menor precaução que se deixe<br />

de tomar causaria uma catástrofe inevitável. 39<br />

39 Algumas semanas mais tarde, tive ocasião de perguntar a uma encantadora jovem, recentemente<br />

casada, se já havia visitado a estrada provisória para desfrutar a pitoresca paisagem: – Não –<br />

respondeu-me ela com um tom sério –, sou moça e feliz, não desejo ainda morrer. Eis um<br />

comentário divertido da idéia que fazem os brasileiros do perigo de uma tal viagem.

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