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240 Luís Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz<br />

Mucuins. – Não me devo despedir de Tefé sem escrever aqui<br />

uma palavra de recordação para uma certa categoria de habitantes que não<br />

perturbaram pouco o nosso descanso. Foram as insignificantes criaturas<br />

chamadas mucuins, que se veriam a custo não fosse o vermelho vivo com<br />

que se mostram, e que pululam no capim e nas moitas. Eles se alojam por<br />

baixo da pele e se acreditaria uma erupção de pequeninas brotoejas. Produzem<br />

uma coceira insuportável e com a continuação pequenas feridas dolorosas.<br />

Quando se volta dum passeio é necessário passar água com álcool na<br />

pele, se se quer fazer desaparecer o calor e a irritação ocasionados por esses<br />

insetos microscópicos. Os mosquitos são enervantes, os piuns fazem enlouquecer;<br />

mas, para acumular sobre uma pessoa todas as misérias, falem-me<br />

dos mucuins.<br />

Temporal. 23 de outubro – Partimos de Tefé, sábado à tarde,<br />

pelo Icamiaba. Parece que nos achamos em casa, tão viva é a lembrança das<br />

horas agradáveis passadas a bordo desse navio quando da nossa viagem a<br />

partir do Pará. Já se anuncia a estação das chuvas; nenhuma das tardes talvez<br />

da semana passada deixou de terminar em temporal. Na véspera de nossa<br />

partida de Tefé, assistimos a um dos mais magníficos temporais que vimos<br />

no Amazonas. Veio de leste, pois é sempre desse ponto do horizonte que<br />

vêm as grandes borrascas: o que faz os índios dizerem que “o caminho do<br />

sol é tambem o caminho da tempestade”. As nuvens superiores iluminadas<br />

em cheio e fugindo com velocidade muito maior que a das massas inferiores<br />

sombrias e carregadas, deixavam cair, por cima destas, longas faixas em<br />

flocos, de um branco fosco; dir-se-ia uma avalanche de neve prestes a precipitar-se.<br />

Sentados na soalheira da porta, contemplávamos a sua marcha rápida,<br />

e Agassiz me disse que essa tempestade equatorial era a imagem mais<br />

exata que já vira duma avalanche nas altas montanhas dos Alpes. A natureza,<br />

realmente, parece às vezes querer brincar consigo mesma, reproduzindo os<br />

mesmos aspectos nas circunstâncias as mais díspares...<br />

Observamos com curiosidade as mudanças do rio. Quando<br />

chegamos a Tefé, ele baixava rapidamente, cerca de um pé por dia. Pode-se<br />

facilmente medir o recuo das águas pelos traços deixados nas margens pelas<br />

chuvas acidentais. Assim, a chuva que caía num dado dia fazia sulcos na<br />

areia até o limite das águas; no dia seguinte, o nível do rio chegava até mais<br />

de um pé de distância da extremidade dos sulcos produzidos pela chuva; a

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