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236 Luís Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz<br />

os traços dum naturalista inglês, Bates, o “senhor Henrique” como o chamam<br />

aqui, cuja obra encantadora Um naturalista no Amazonas foi para nós<br />

um amável companheiro de viagem. 124<br />

124 Como, desde o princípio, todas as disposições foram tomadas para uma permanência em Tefé,<br />

de pelo menos um mês, não foi possível executar a nossa tarefa com mais método do que<br />

durante as nossas excursões e a nossa viagem. Foi portanto em Tefé que consegui o maior<br />

número de esqueletos de peixes e que preparei para o Museu de Cambridge vários grandes<br />

animais do país: peixes-bois, botos, pirarucus, surubins, etc. Aí empreendi também pela primeira<br />

vez um estudo regular dos filhotes de todas as espécies que foi possível obter. Como<br />

sempre os meus vizinhos ou, melhor, todos os habitantes do vilarejo porfiaram em procurar<br />

exemplares para mim. O Sr. João da Cunha e o Dr. Romualdo fizeram numerosas pescarias<br />

para me servirem, e, quando não me foi possível acompanhá-los, não deixei de encontrar à<br />

tarde, amarrada à margem uma canoa cheia de peixes onde ia escolher tudo o que me pudesse<br />

servir e interessar. O vendeiro do lugar, Sr. Pedro Mendes, que manda todo dia um hábil<br />

pescador buscar peixe para a sua numerosa família, lhe deu ordem de trazer-me todos os peixes<br />

antes de entregá-los, <strong>ao</strong> cozinheiro, para que eu escolhesse livremente. Isso me prestou grande<br />

auxílio, porquanto, por ocasião do nosso regresso a Tefé, eu deixei em Tabatinga para ajudar <strong>ao</strong><br />

Sr. Bourget, o pescador índio José que eu contratara em Manaus. Um velho índio Passé, antigo<br />

companheiro do Major Coutinho, que conhecia admiravelmente os peixes e os animais da<br />

floresta, me foi também de grande utilidade. Ele conseguiu apanhar várias espécies de peixes e<br />

répteis cujos hábitos e esconderijos parece ser o único a conhecer. O professor e os alunos da<br />

escola primária, em suma todo indivíduo capaz de apanhar um peixe ou uma ave, puseram<br />

mãos à obra, e com a assistência dos meus jovens amigos Dexter, Hunnewell e Thayer, a<br />

cooperação do Major Coutinho e do Sr. Burkhardt, o nosso trabalho fez dia a dia extr<strong>ao</strong>rdinários<br />

progressos. Deixei <strong>ao</strong>s meus auxiliares o cuidado das coleções de animais terrestres, e<br />

reservei-me o dos peixes, enquanto que o Major Coutinho se ocupava com as observações<br />

geológicas e meteorológicas. Até os empregados domésticos entraram em cena, lavando os<br />

esqueletos. Eu havia feito em Tefé uma importante coleção de cérebros de peixes, compreendendo<br />

a maioria dos gêneros que se encontram nesta localidade; infelizmente perdi-a <strong>ao</strong> chegar<br />

a Manaus. Conhecendo a dificuldade de transportar preparações tão delicadas, conservei-as<br />

sempre <strong>ao</strong> pé de mim, simplesmente guardadas numa barrica aberta, não só na esperança de<br />

transportá-las com mais segurança até a minha casa como para poder aumentá-las com as<br />

aquisições que fosse fazendo. Num momento de inadvertência quando desembarcávamos,<br />

alguém atirou tudo pelo costado no rio Negro. Foi a única parte das minhas coleções que se<br />

perdeu completamente. Depois de haver distribuído todas as minhas coisas da forma mais<br />

conveniente, fiz com o Major Estolano a instrutiva excursão <strong>ao</strong> lago do Boto cujo descrição se<br />

leu acima. É uma pequena porção d’água, não longe do sítio do major, na margem direita do<br />

curso principal do Amazonas. Tive ocasião de me certificar como são diferentes os peixes que<br />

fazem parte de faunas adjacentes da mesma bacia hidrográfica. Não voltei ainda a mim da<br />

surpresa que tive <strong>ao</strong> descobrir, perto de margens que geograficamente devem ser simplesmente<br />

consideradas como os limites opostos dum mesmo curso d’água, populações ictiológicas<br />

essencialmente diferentes. Dentre os peixes mais curiosos que aí obtive, convém citar um<br />

gênero novo, vizinho de Phractocephalus, de que conheço uma única espécie, volumosa, notável<br />

pelo tom uniforme de sua cor amarelo-canário. Os Dora, Acestra, Pterygoplichthys, etc., eram<br />

particularmente freqüentes. Por pequeno que seja este lago, nele se encontram os animais mais<br />

corpulentos que se conhece da bacia amazônica, tais como o peixe-boi e o boto [sic], do<br />

Amazonas, que deu seu nome a este lago, o aligator* o pirarucu ou sudis gigas dos autores, os<br />

surubins, grande espécie de silúrio de cabeça chata, o pacamum, corpulento siluiróide amarelo-canário<br />

de que há pouco falei, etc. (L. A.)<br />

* Mais uma vez o autor e tradutor não empregam a denominação local de jacaré; também, em vez<br />

de “peixe-boi” no original está Manatee e Lamatin na trad. francesa. Aqui, porém, se lê no<br />

original “porpoise” (Boto) e “boto” ou “marsouin” na tradução francesa. (Nota do tr.)

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