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348 Luís Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz<br />

vegetação estava emaranhada por incontáveis lianas e plantas trepadeiras, no<br />

meio das quais distinguiam-se principalmente as bignônias com a sua corola<br />

aberta em forma de trompa. O capim de um verde tenro misturava-se às<br />

flores da malvácea que abundava no meio do capinzal, e a aninga, essa espécie<br />

de arum aquático de folhas grandes, formava-lhe uma como que moldura.<br />

Aves aquáticas. Horas a fio, a nossa canoa deslizou lentamente<br />

sob as árvores dessa floresta, em que a vida animal rivalizava com a vegetal<br />

em variedade e riqueza. O número e a diversidade das aves me enchiam de<br />

espanto. O conjunto das ervas espessas e dos juncos, nas duas margens, se<br />

mostrava coalhado de aves aquáticas. Uma das mais comuns era uma pernalta<br />

pequena de cor acastanhada – o jaçanã (Parra) – cujos longos dedos,<br />

em desproporção com o volume do corpo, permitem correr sobre a superfície<br />

da vegetação ribeirinha como sobre um terreno sólido. Estamos em<br />

janeiro, é para ela a época dos amores; a cada bater do remo n’água, fazemos<br />

voar os casais amedrontados, cujos ninhos chatos, inteiramente abertos,<br />

contêm em geral cinco ovos cor de carne com ziguezagues castanho-escuro.<br />

Os outros pernaltas eram uma garça cor de neve, outra pardo-acinzentada,<br />

algumas espécies menores, e uma grande cegonha branca. As garças cinzentas<br />

andavam sempre <strong>ao</strong>s pares; as brancas andavam sozinhas, solitárias à<br />

beira d’água ou meio escondidas no capim. As árvores e as moitas estavam<br />

coalhadas de passarinhos semelhantes às nossas toutinegras, e que seria difícil<br />

classificar; para um observador comum, apenas lembrariam aqueles pequenos<br />

cantores de nossos bosques, porém, dentre as espécies observadas,<br />

uma chamou especialmente minha atenção por causa do grande número de<br />

indivíduos que notei e também pela arquitetura de seus ninhos, a mais<br />

extr<strong>ao</strong>rdinária que vi até hoje, relativamente <strong>ao</strong> tamanho do construtor. Os<br />

habitantes da terra lhe dão dois nomes, e chamam-lhe ora “pedreiro” ora<br />

“forneiro”, 158 duas palavras que fazem alusão, como se vai ver, à natureza de<br />

sua morada. Esse ninho singular é construído de argila, é duro como pedra<br />

e sua forma é a de um forno arredondado, no qual os habitantes da região<br />

preparam a caçava ou farinha extraída dos tubérculos da mandioca; mede<br />

cerca de um pé de diâmetro e é enganchado sobre o galho ou na forquilha<br />

158 Entre nós também conhecido por “joão-de-barro”. (Nota do tr.).

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