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220 Luís Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz<br />

se em seguida em cima do ninho e abocanham os filhotes logo que saem do<br />

ovo. Acrescentam os pescadores que esses peixes não guardam constantemente<br />

os filhotes na boca, mas os depõem algumas vezes no ninho e os retomam<br />

quando pressentem o perigo. 116<br />

Falta de braços. As nossas instalações domésticas adquiriram agora<br />

uma organização definitiva. Encontramos a princípio alguma dificuldade em<br />

conseguir empregados. É a estação da pesca; os homens vão para longe, para<br />

secar e salgar o peixe; além disso, não falta muito para a época de apanhar ovos<br />

e fabricar manteiga de tartaruga e, então, só as mulheres ficam nos povoados. É<br />

como no tempo das colheitas, entre nós, quando o trabalho dos campos recla-<br />

116 Pude certificar-me de que essa asserção é inexata, <strong>ao</strong> menos para algumas espécies, como se<br />

verá pouco adiante. Deixo-a, contudo, subsistir no texto, como exemplo da dificuldade que<br />

há em se obter informações verdadeiras e do perigo de se fiar a gente nas observações mesmo<br />

das pessoas mais sinceras. Alguns acarás, um dúvida, depositam os seus filhotes na areia e<br />

continuam a tomar um certo cuidado em eles até que fiquem em estado de se bastarem a si<br />

próprios. Mas a história contada pelos pescadores é uma dessas meias-verdades que enganam<br />

tanto como um erro completo. Vou dar mais alguns detalhes sobre os acarás. Por esse nome,<br />

os naturais designam todos os Cromídios de forma oval. As espécies que põem ovos na areia<br />

pertencem <strong>ao</strong>s gêneros Hydrophonus e Chaetobranchus. Como o Conotis da América do<br />

Norte, eles constroem uma espécie de ninho na areia ou no lodo; aí depositam os ovos e<br />

nadam por cima deles até a eclosão. As espécies que trazem os seus filhotes na boca pertencem<br />

a vários gêneros, reunidas, todas antigamente, por Haeckel, sob o nome de geófagos. Eu<br />

não saberia dizer exatamente como os ovos são levados para a cavidade bucal, mas o transporte<br />

se deve operar logo depois da desova, pois observei alguns em que o desenvolvimento<br />

do embrião estava apenas em começo e outros onde havia atingido uma fase mais adiantada.<br />

Aconteceu-me encontrar a cavidade branquial, assim como o espaço circunscrito pela membrana<br />

branquióstega, cheia, não de ovos, mas de filhotes já nascidos. Antes da aclosão, os<br />

ovos se acham sempre na mesma parte da boca, isto é, na parte superior dos arcos branquiais.<br />

São protegidos ou conservados juntos por um lobo especial, como que uma válvula formada<br />

pelos faríngeos superiores. A cavidade assim ocupada pelos ovos corresponde exatamente <strong>ao</strong><br />

labirinto dessa curiosa família de peixes do Oceano Índico, a que Cuvier deu o nome de<br />

“peixes de brânquias labirínticas”. Essa circunstância me leva a crer que o labirinto branquial<br />

dos peixes do Oriente bem poderia ser uma bolsa destinada a receber os peixes ainda<br />

pequeninos, como a dos nossos cromídios, e não simplesmente um aparelho para reter a água<br />

necessária à respiração. Nos peixes do Amazonas, uma rede de nervos sensitivos se irradia na<br />

direção dessa bolsa marsupial; o feixe principal emanado dum gânglio especial situado por<br />

trás do cérebro, na medula alongada. Essa região do sistema nervoso central é singularmente<br />

desenvolvida nas diferentes famílias de peixes e emite nervos que desempenham funções as<br />

mais variadas. É dela que partem, normalmente, os nervos motores e sensitivos da face, os<br />

dos órgãos respiratórios, da porção superior do canal alimentar, da garganta e do estômago.<br />

Nos peixes-elétricos, os grossos nervos que vão ter às baterias provêm da mesma região do<br />

encéfalo, e acabo de verificar que a bolsa em que o acará incuba e nutre os seus filhotes<br />

durante um certo tempo recebe seus nervos da mesma origem. Eis uma série de fatos<br />

verdadeiramente maravilhosos, e que provam quanto a ciência está longe ainda de conhecer<br />

completamente as funções do sistema nervoso. (L. A.)

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