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<strong>Viagem</strong> <strong>ao</strong> <strong>Brasil</strong> 239<br />

seus tributários; é preciso abrir essas grandes vias fluviais à ambição e à concorrência<br />

de todos os povos. 125 Não somente a população branca é muito<br />

escassa para suprir a tarefa que tem diante de si, como essa população não é<br />

menos pobre em qualidade do que reduzida em quantidade. Ela apresenta o<br />

singular fenômeno duma raça superior recebendo o cunho duma raça inferior,<br />

duma classe civilizada adotando os hábitos e rebaixando-se <strong>ao</strong> nível dos<br />

selvagens. Nas povoações do Solimões, as pessoas que são consideradas como<br />

da aristocracia local, a aristocracia branca, exploram a ignorância do índio,<br />

ludibriam-no e embrutecem-no, mas tomam não obstante os seus hábitos e,<br />

como ele, sentam-se no chão e comem com as mãos. É em vão que a lei veio<br />

sempre proibindo reduzir o índio à escravidão; iludem-na na prática e instituem<br />

uma servidão que põe essa pobre gente numa dependência do senhor tão<br />

absoluta como se houvesse sido comprada ou vendida. O branco toma o<br />

índio <strong>ao</strong> seu serviço, mediante um certo salário, e promete-lhe <strong>ao</strong> mesmo<br />

tempo prover à sua alimentação e vestimenta até que perceba o suficiente para<br />

se suprir a si mesmo. O resultado, no final das contas, é todo em proveito do<br />

que contrata. Quando o índio vem receber seu salário, respondem-lhe que já<br />

deve <strong>ao</strong> senhor a soma dos adiantamentos por este feitos. Em lugar de poder<br />

exigir dinheiro, ele deve trabalho. Os índios, mesmo os que vivem nas vilas e<br />

povoados, são singularmente ignorantes sobre o valor das coisas; deixam-se<br />

enganar a um ponto tal que ultrapassa o acreditável e permanecem presos<br />

toda a sua vida <strong>ao</strong> serviço dum homem, ingenuamente persuadidos de que<br />

têm uma grande dívida a pagar quando, de fato, eles é que são credores. Além<br />

dessa escravidão virtual, existe um verdadeiro comércio de índios. As autoridades<br />

bem que fazem para se opor a ele, mas são impotentes. Uma classe mais<br />

moralizada de emigrantes tornaria impossível esse tráfico. Os norte-americanos<br />

e os ingleses poderão ser bastante sórdidos em suas transações com os<br />

naturais do país; o tráfico das “peles azuis” não lhes deixou certamente as mãos<br />

limpas, mas não se quereriam degradar <strong>ao</strong> nível dos índios como o fazem os<br />

portugueses; não se abaixariam a adotar-lhes os costumes.”<br />

125 Os desejos do autor foram há muito satisfeitos. Desde o ano de 1866, um decreto imperial<br />

abriu o Amazonas, em toda a extensão das águas brasileiras, à livre navegação de todas as frotas<br />

mercantes. Este decreto foi posto em execução a 7 de setembro de 1867. (Nota da tradução<br />

francesa.)

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