12.07.2015 Views

Revista de Letras - Utad

Revista de Letras - Utad

Revista de Letras - Utad

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

114 Maria Olinda Rodrigues Santanaainda L53 penso que é pouco pois eu sei avaliar a falta que temos <strong>de</strong> iducar ascrianças L54 <strong>de</strong> uma cultura cívica e igualarnos a outros povos <strong>de</strong> que tenho tidoL55 opurtunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer”. Ao comentar uma falha do sistema educativoSalazarista, toca ainda noutro tema omnipresente no seu discurso e relacionadocom a falta <strong>de</strong> instrução dos portugueses, <strong>de</strong>clarando que os emigrantesportugueses são os mais “trabalhadores e honestos”, mas os mais “ignorantes”,por falta <strong>de</strong> “instrução na infância”. Na verda<strong>de</strong>, tanto os miran<strong>de</strong>ses, comooutros portugueses, nas décadas <strong>de</strong> 40, 50, 60, tiveram <strong>de</strong> emigrar para o Brasil àprocura <strong>de</strong> uma vida melhor, umas vezes encontrada, outras não. Mourinho, porseu turno, na leitura da carta do amigo, sublinhou a crayon vermelho as frasessubsequentes: “Possu-lhe assegurar ao meu amigo que o imigrante L56português é o mais trabalhador e onesto mas sim o mais ignorante e L57 isso nóspo<strong>de</strong>mos agra<strong>de</strong>cer á falta <strong>de</strong> instrução na infância”. Fê-lo com o objetivo <strong>de</strong> nasua resposta não se esquecer <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a política educativa do regime, comoveremos adiante.No fecho da carta, antes <strong>de</strong> se <strong>de</strong>spedir, solicita uma resposta do amigo epe<strong>de</strong>-lhe que sossegue o seu pai falando-lhe do seu sucesso no Brasil.António Mourinho respon<strong>de</strong>rá à carta <strong>de</strong> Eliseu três meses após a receção damesma, mais precisamente a “20 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1950”.A carta <strong>de</strong> Mourinho, tal como a <strong>de</strong> Eliseu, obe<strong>de</strong>ce à estrutura tradicional<strong>de</strong> uma missiva familiar. Assim, inicia-se com a referência ao lugar da escrita“Duas Igrejas” e à data “20 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1950”, seguida da fórmula <strong>de</strong>en<strong>de</strong>reço, com os habituais <strong>de</strong>íticos sociais: “Meu prezado e querido AmigoEliseu”. Inicia o seu discurso com um pedido <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpas pela <strong>de</strong>mora naresposta: “ (…) tenho <strong>de</strong> pedir-te imensa <strong>de</strong>sculpa, <strong>de</strong> ter tardado tanto emrespon<strong>de</strong>r à tua prezada carta (…) que sinceramente veio alegrar o meucoração”, (linhas 4 a 6). Rememora os tempos <strong>de</strong> infância: “sauda<strong>de</strong> sincera,simples e verda<strong>de</strong>ira é a dos bancos da escola”, usando as fórmulas habituais <strong>de</strong>agra<strong>de</strong>cimento da correspondência: “Muito obrigado pois, meu caro Eliseu, pelatua carta”, formulando votos <strong>de</strong> “saú<strong>de</strong>”, e “felicida<strong>de</strong>” para o amigo e família(linhas 5 e 6).Refere que a carta do amigo o “alegrou”, pois permitiu-lhe a evocação dopassado, do percurso <strong>de</strong> quatro amigos <strong>de</strong> infância: “Fomos quatro rapazes,naquele ano <strong>de</strong> 1928 [a] fazer exame, todos fostoes [sic] para o estrangeiro, oClaudio dorme já o sono da morte no <strong>de</strong>serto africano, tu e o António Xavierfugistes para o Brasil, só eu estou dado a Portugal” (linhas 14 a 16), utilizando a1.ª pessoa do plural “nós”. Faz um agra<strong>de</strong>cimento a Deus e emite uma opiniãopessoal sobre a vida dos quatro amigos “Graças a Deus, nenhum <strong>de</strong> nós creiobem está arrependido da sua sorte, (…)”. Felicita o amigo Eliseu pelaprosperida<strong>de</strong> conseguida no Brasil: “pois folgo imenso quando sei que na luta

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!