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Revista de Letras - Utad

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Quando a História oficial se encontra com a Literatura 209Acho que tem toda a legitimida<strong>de</strong>, porque se se está a dar uma novaversão dos factos, é porque se está a falar <strong>de</strong> factos <strong>de</strong> que temosconhecimento por uma certa versão <strong>de</strong>les. Evi<strong>de</strong>ntemente que aquilo quenos chega não são verda<strong>de</strong>s absolutas, são versões <strong>de</strong> acontecimentos maisou menos autoritárias, mais ou menos respaldadas pelo consenso social oupelo consenso i<strong>de</strong>ológico ou até por um po<strong>de</strong>r ditatorial que dissesse«há que acreditar nisto, o que aconteceu foi isto e portanto vamos meteristo na cabeça». O que nos estão a dar, repito, é uma versão. E creio que,dizendo nós a toda a hora que a única verda<strong>de</strong> absoluta é que toda ela érelativa, não sei porque é que, chegando o momento em que <strong>de</strong>terminadoescritor passando por um certo facto ou episódio, <strong>de</strong>veria aceitar como leiinamovível uma versão dada, quando sabemos que a História não só éparcial como é parcelar. Noutros termos: porque é que a literatura não há--<strong>de</strong> ter também a sua própria versão da História?” (Reis 1999: 86-87)Mas o diálogo continua para ser invocado o exemplo <strong>de</strong> Eça <strong>de</strong> Queirós:Por exemplo: a Palestina d’A Relíquia do seu Eça é uma versão. O Eçaleu o que se tinha escrito sobre a Palestina, mas com certeza que meteu lácoisas da sua lavra; e inventou uma Palestina.CR – Ele disse numa carta que «a História será sempre uma gran<strong>de</strong>Fantasia».JS – Pois! Estamos nós aqui com toda esta conversa e o Eça <strong>de</strong> Queirósjá tinha dito tudo… (Reis 1999: 87)Ora, Jorge Laiginhas, <strong>de</strong> facto, mostra-nos também que «a História serásempre uma gran<strong>de</strong> Fantasia»; mostrou-o na sua tese <strong>de</strong> doutoramento, provouao Presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Júri das suas provas <strong>de</strong> mestrado que a História foi parcial eparcelar, que, <strong>de</strong> alguma forma, a História será sempre uma gran<strong>de</strong> Fantasia, e,por isso, é semelhante à lenda; provou-o também no seu exercício <strong>de</strong> escritaromanesca que construiu um mundo possível em que nos faz acreditar,utilizando muitas vezes o discurso, outras o pseudo-discurso <strong>de</strong> fontesautorizadas, mostrando, efectivamente, o que po<strong>de</strong> a Fantasia. Desta forma leva--nos a relativizar, a questionar a verda<strong>de</strong> dos factos. Ao proce<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sta forma,revela verda<strong>de</strong>iramente o seu espírito científico na medida em que, sendo averda<strong>de</strong> absoluta inalcançável, nada é permanente, tudo está sujeito areformulação.Não sabemos, ao certo, se a lenda invocada corre na tradição popular. Nãosabemos se terá sido forjada pelo Autor. Até ao momento, não encontrámosqualquer registo da dita lenda. Se tal pressuposição tiver algum fundamento,maior sustentabilida<strong>de</strong> encontramos nas palavras que acabámos <strong>de</strong> escrever.O Autor criou uma lenda para ilustrar a i<strong>de</strong>ia do carácter relativo da verda<strong>de</strong>.De certa maneira, Jorge Laiginhas está a mostrar-nos aquilo que Saramago

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