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Revista de Letras - Utad

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Caleidoscópio <strong>de</strong> histórias <strong>de</strong> encantamentos e encantados… 171Viajando pelas histórias das crianças-narradores da Amazónia encontram-sefiguras lendárias da cultura amazónica São histórias <strong>de</strong> encantamentos /encantados que circulam pelo imaginário do povo <strong>de</strong>sta região. Na crença dosmoradores da Amazónia, o mundo sobrenatural é povoado por entida<strong>de</strong>s quemoram na mata (encantados das matas) ou nas águas dos rios e igarapés(encantados das águas).Estas entida<strong>de</strong>s protegem os animais da floresta e das águas e também oshomens, misturando a crença do caboclo e do indígena. Aos encantados nomundo amazónico, foi reservado um “locus” muito particular: os encantadoscultuados pelas regiões populares são entida<strong>de</strong>s do mundo sobrenatural dareligiosida<strong>de</strong> popular amazónica, que habitam a floresta e fundo dos rios e queprotegem, não somente os homens, como também as comunida<strong>de</strong>s em que osmesmos vivem. As encantarias, para os indígenas, é o lugar on<strong>de</strong> moram osencantados, estariam localizadas acima das nuvens e abaixo do céu, comotambém nas florestas e nos fundos dos rios.O escritor paraense Larêdo (1998), no livro Ouvindo Histórias doImaginário Amazônico, comenta que na sua infância, no interior do Estado doPará, ouvia à boca da noite muitas histórias <strong>de</strong> reis e rainhas, <strong>de</strong> fadas, contadaspor sua mãe e seu pai. Ouvia ainda <strong>de</strong> toda parte e até mesmo na escola com aprofessora Maria, as histórias sobre as estripulias do Boto, as lendas doUirapuru, as diabruras da Cobra-Gran<strong>de</strong>, enfim, tudo sobre o imaginário daregião amazónica. Seu avó, recorda ele, extasiava a todos, narrando caçadas e asinterferências do dono da floresta, dos sacis, mãe d´água, Curupiras, onças,anhangás, lobisomens e tantos outros. E diz mais (1998: 31-34): “mamãecontava muitas histórias. Creio mesmo que ela as inventava, porque pareciamsem fim, intermináveis. (…) A matintaperera nos assustava e muitas vezes sentique ela estava próxima na forma <strong>de</strong> cada mulher <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (…) Colegas e amigos<strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras comentavam o que ouviam em suas casas: visagens, odisséia <strong>de</strong>caçadores, sumiços, assombrações”.Assim como Larêdo (1998: 38), muitas crianças interioranas eramenfeitiçadas à boca da noite com histórias que misturavam os elementos visíveise os invisíveis do mundo amazónico. Constata-se pelas palavras <strong>de</strong>sse escritor ocenário que ficou guardado em sua memória:(...) as noites surgiam agradabilíssimas. As famílias se reuniam á frente dascasas sob a luz <strong>de</strong> can<strong>de</strong>eiros ou do luar tecido <strong>de</strong> pratas e sons <strong>de</strong> músicas<strong>de</strong> cantigas <strong>de</strong> roda em que todos nós, crianças, jovens e adultosparticipávamos, entremeando versões <strong>de</strong> fábulas e estórias que seesticavam em casos nos serões temperados com café e farinha <strong>de</strong> tapioca,entre águas, risos, chocolates caseiros, e cremes <strong>de</strong> ovos, <strong>de</strong>licias ansiadas.Nessas tertúlias, verda<strong>de</strong>iro jornal oral era montado (…).

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