12.07.2015 Views

Revista de Letras - Utad

Revista de Letras - Utad

Revista de Letras - Utad

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

260 Carla Sofia Gomes Xavier Luís e Alexandre António da Costa LuísPara se ser um bom criador literário é fundamental ser-se um bomintérprete da língua. […] A nossa literatura é que está cheia <strong>de</strong> arrivistas,que escrevem com os pés ou com o nariz, <strong>de</strong> qualquer maneira. Estão amarimbar-se para a língua. Escrever, para mim, é um acto doloroso.Escrevo lentamente. É um alívio <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma página escrita. Depois<strong>de</strong>ste romance [A Quinta das Virtu<strong>de</strong>s], sinto-me <strong>de</strong>scompensado, vazio,sem nada para dizer. (In: Luís 1990: 93)Perante o cenário traçado, não admira a posição sustentada por GabrielMagalhães, segundo a qual o mencionado escritor apresenta, na sua obra,“uma enciclopédia do essencial da portugalida<strong>de</strong> – Os Lusíadas <strong>de</strong> uma epopeiaportuguesa estritamente literária e artística” (Magalhães s.d.: 6). No fundo,Mário Cláudio escreve, assiduamente, textos que são poesia, história e biografia.Em jeito polifónico, há inquestionavelmente um movimento expansivo, on<strong>de</strong> ogénero do romance vai absorvendo outros elementos, como, por exemplo, apintura, a música, a arquitectura. A poesia abre espaço à narrativa, esta, por suavez, contamina-se <strong>de</strong> História <strong>de</strong> Portugal e das famílias portuguesas e mistura--se ainda com a arte. Apesar dos pontos <strong>de</strong> contacto que mantém com autorescontemporâneos, como José Saramago, Mário <strong>de</strong> Carvalho ou Agustina BessaLuís, Mário Cláudio revela um perfil singular na literatura portuguesacontemporânea. De facto, este escritor consegue, a cada passo, agrilhoar osnossos sentidos não só pelo apurado manuseamento da língua e literaturaportuguesas, que sabiamente cultiva, mas também pela cirúrgica capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>reaproveitamento dos valores culturais lusitanos, conferindo-lhes um cunhoverda<strong>de</strong>iramente multifacetado e, por conseguinte, aberto a diferentes leituras,no sentido <strong>de</strong>rridiano do termo.Em síntese, as curiosas biografias <strong>de</strong>stes dois mentores e <strong>de</strong>fensores dalíngua e cultura lusíadas, José Inês Louro e Mário Cláudio, revelam-nos que,apesar <strong>de</strong> provirem <strong>de</strong> classes sociais bem dissemelhantes, po<strong>de</strong>mos mesmodizer opostas, o primeiro nasceu num ambiente familiar discreto e humil<strong>de</strong>, aopasso que Mário Cláudio contactou, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tenra ida<strong>de</strong>, com um cenário familiarestimulante e favorável à <strong>de</strong>senvoltura do seu potencial, posto que <strong>de</strong>scen<strong>de</strong> <strong>de</strong>uma família da média-alta burguesia portuense, não <strong>de</strong>ixam, no entanto, <strong>de</strong>registar alguns aspectos que os aproximam irreversivelmente, como a ligação àCida<strong>de</strong> Invicta e a paixão pelo mundo das palavras. A realida<strong>de</strong> é que ambos,naturalmente com as <strong>de</strong>vidas especificida<strong>de</strong>s, ocupam um papel <strong>de</strong> relevo navalorização e salvaguarda <strong>de</strong> alguns valores e marcos i<strong>de</strong>ntitários do povoportuguês. Com efeito, as gerações <strong>de</strong> hoje e as futuras não po<strong>de</strong>m ficarindiferentes a estes dois exemplos <strong>de</strong> acérrimos promotores da nossa língua ecultura, peças incontornáveis e garantes da conservação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> colectiva

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!