Revista de Letras - Utad

Recensão: Paraíso Revisitado... de José Eduardo Rodrigues 419Num registo desprovido do olhar crítico do sujeito, encontramos notaçõeslíricas de uma singeleza excelsa, resultantes da observação deslumbrada danatureza. São disso exemplo os poemas «Melro d’Água», «Libelinha» ou«Mariposa»:Eis o melro d’água, aí está ele a saltitar,irrequieto sobre as poldras das levadas,com o seu papinho branco e emproadoe o penachinho da cauda para o ar,é um relance, um capricho de acrobata,é um toque tão macio na paisagem,é uma incerteza,é uma surpreza a esvoaçar…É dele esta frescurade águas soltas nas cascatas,cantarolando mil toadas que ensurdinamnos remansos dos açudes e nas charcascom a orquestra de rãs em suas crenças…È dele a vertigem em corrupioe toda a liberdade da distância,é dele a nossa ânsiaé dele o paraíso deste rio!Libelinha breve,luzindo elegância,revolteia incerta,é um cibinho, um cisco,um papel de lustro,é uma transparência,é uma choina viva,cintila na pratade água cristalina,jogando escondidasna verde cortinada folhagem fresca,faísca na tardeestremecendo a sesta…rodopia e segue,vai num corrupiona curva do rioperdi-a de vista…O Ciclo da Terra – Roteiro Visceral não se ocupa apenas da paisagem física,humana e social na qual o sujeito lírico se vai inserindo, com a qual vaiconvivendo. Ele é também preenchido por aquilo que designamos por espaço dememória cultural ou, dito de outra forma, pela explicação identitária dos homense do que envolve a vivência dos homens: mitos, ritos, lendas, presençasmarcantes, individuais ou colectivas. Curiosamente, nestes casos são utilizadasformas estróficas populares como a quadra e a quintilha e o verso em redondilha.É o caso do texto «Vilar de Maçada em Roteiro» que refere aspectos ligados