12.07.2015 Views

Revista de Letras - Utad

Revista de Letras - Utad

Revista de Letras - Utad

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

418 Henriqueta Maria GonçalvesRegiste-se a construção antitética que alia suor e mosto, suor e melaço,aspereza e doçura, amargura e mosto, «meias-noites» agri-doces, as imagenspenosas retidas em «cestos bem cheios/a pesar no cachaço», «o diabo daspernas/é preciso poupá-las/amanhã há mais cestos/e ruins os caminhos», «asla<strong>de</strong>iras nas pernas», «o Sol no cachaço» e «só na pausa <strong>de</strong> um copo/ é que seengana o cansaço!» que traduzem essa dura realida<strong>de</strong> da vindima duriense.Por outro lado, regista-se no poema a sensualida<strong>de</strong> transbordante do homem e damulher que participam na vindima, num tom oralizante que procura ser fiel àfala do mandador: «essas pernas, Jequina,/bem acima e abaixo!/ah! meninas,catancho!/que ele está a pôr-se/direito!». No poema inicial está também presenteuma linha-força que associa as imagens da terra captada à componente folclóricaque transparece em muitos textos: a vindima é uma festa acompanhada por sonsproduzidos por instrumentos da tradição musical genuinamente popular:a concertina e os ferrinhos. 2O texto poético ilustra, pois, os eixos em que se alicerçam as captaçõesemocionadas do sujeito lírico em muitos dos poemas que integram a obra.O ar «coado pelas fragas, pelas águas soltas, livres/pelas serras » constrói ohomem transmontano «vertical, inteiro, soberano, mesmo quando esquecido ousegregado» (in «Transmontaníssimo», p. 21) a quem, em tom <strong>de</strong> lamentointerventivo, o poeta faz dizer: «cá resisto».No poema «Marão Terra – Terra Mãe», a emoção <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada pelo espaçoé igualmente associada à <strong>de</strong>núncia social: «On<strong>de</strong> o Sol tem mais brilho/e a águaé mais pura/há um rol <strong>de</strong> amargura/sublimada em orgulho»; neste, como noutrospoemas, <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>núncia faz parte a emigração necessária: «on<strong>de</strong> há sempre umBrasil/on<strong>de</strong> há sempre uma França/a teimar numa ânsia» (p. 22).Compreen<strong>de</strong>-se talvez melhor esta associação entre a exaltação <strong>de</strong> umanatureza grandiosa, que <strong>de</strong>slumbra o sujeito poético e lhe <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia emoçõesfortes e sensuais, e o olhar da razão crítica e <strong>de</strong> intervenção humanista no soneto«Douro Mítico», <strong>de</strong> que transcrevemos a primeira e última estrofes:Douro terra, calor e doçuraon<strong>de</strong> o xisto foi luta e é leiva,on<strong>de</strong> o sol é suor e a seivaé melaço e sabor <strong>de</strong> amarguraUm tesouro sofrido on<strong>de</strong> o prantoé que rasga a raíz-natureza,ecoando um fragor <strong>de</strong>ste espanto!2 As Rogas eram ranchos <strong>de</strong> homens e mulheres da Serra Duriense contratados para as vindimasdo Douro e cujos alegres cantares têm por instrumental: Bombo / Ferrinhos / Gaita <strong>de</strong> beiços /Viola / Guitarra / Violão / Banjolim / Concertina / Assobio. Informação recolhida em PequenoGuia para a Recolha <strong>de</strong> Instrumentos Musicais Populares <strong>de</strong> Ernesto Veiga <strong>de</strong> Oliveira (1975) .

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!