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Revista de Letras - Utad

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230 Maria Luísa <strong>de</strong> Castro SoaresA altura relativa da montanha, transfigurada pela visão do poeta, revela a alturainfinita da Transcendência 17 .No dizer <strong>de</strong> M. Elia<strong>de</strong> “o muito alto” torna-se espontaneamente um atributoda divinda<strong>de</strong>” (I<strong>de</strong>m, 128). E, na verda<strong>de</strong>, é no alto do Olimpo a morada dosDeuses como é o Alto a meta <strong>de</strong> plenitu<strong>de</strong> perfeita da consciência.Em Marânus − e porque para Pascoaes não é possível um mundo semverticalida<strong>de</strong>, amorfo ou <strong>de</strong>ssacralizado − é assim pela montanha, “Paisagemsagrada, entre as paisagens” (Pascoaes 1990: 98), que se chega à “suprema efinal revelação” i<strong>de</strong>ntitária (I<strong>de</strong>m, 141; 147).Pela montanha cósmica e em “voo” mágico até à “fronteira in<strong>de</strong>finida /on<strong>de</strong> seu corpo material tocava / o fim espiritual da sua vida” (I<strong>de</strong>m, 79), ohomem português processa a sua autognose. E realiza a sua última aspiração: oregresso à Fonte 18 , a Deus.Quero voar, subir àquela altura<strong>de</strong> on<strong>de</strong> meu ser tombou, qual fio <strong>de</strong> água,que baixa, duma névoa, à terra dura,mas preso à linda névoa maternal(Pascoaes 1990: 40)Nesse caminhar ascensional e aventureiro entre a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> facto e arealida<strong>de</strong> psíquica, a Eternida<strong>de</strong> é a realização final e suprema da gran<strong>de</strong>Aventura humana.E, em Marânus <strong>de</strong> Pascoaes, o último tempo do percurso do “lusoperegrino” é marcado pela alegria algo messiânica da chegada do Re<strong>de</strong>ntor.Na linha da Bíblia (em capítulos como “Anunciação”, “Os Pastores”,“A Boa Nova”, “O nascimento”), o Filho da Virgem, que é a Sauda<strong>de</strong> 19 , vainascer. E, na vinda <strong>de</strong>sse Messias, está a re<strong>de</strong>nção dos Portugueses.Por fim, o percurso <strong>de</strong> Marânus culmina com o acesso à “Revelação Final”,com a <strong>de</strong>scoberta da unida<strong>de</strong> ou regresso do luso peregrino a si mesmo, à sua17 Atente-se na semelhança entre o simbolismo celeste da Montanha (lugar alto e “comunicantecom o céu” – I<strong>de</strong>m, 44) que sustenta e infun<strong>de</strong> ritos <strong>de</strong> escalada, <strong>de</strong> voo e <strong>de</strong> ascensão, emPascoaes.18 A mesma imagética está expressa em S. Jerónimo e a trovoada: “Para mim o Mal resulta dumafatalida<strong>de</strong> da Criação, que tinha <strong>de</strong> ser inferior ao Criador. (...). O Mal é a própria Criaçãodistanciada do Criador em qualida<strong>de</strong>. Sem esta distância para baixo, o Autor não se distinguiria dasua Obra. A água mana sempre num sentido oposto ao lugar da fonte: nascendo, cai” (Pascoaes1992: 23-24). Itálicos nossos.19 Afonso Botelho, a partir da leitura <strong>de</strong> Marânus, afirma acerca <strong>de</strong> Pascoaes, na sua obra, oseguinte: “No meu enten<strong>de</strong>r, Pascoaes é sobretudo cristão, se o pudéssemos dizer, excessivamentecristão. Excessivamente cristão quando actualiza no tempo e no espaço, o Cristianismo − trazendoBelém para o Marão e fazendo nascer <strong>de</strong> novo Cristo no Seio Imaculado da Virgem Maria.A Virgem é mesmo a Virgem Santa Maria, só que Rainha da Sauda<strong>de</strong>, significando a visão doCristianismo evoluído do Calvário para o Paraíso (Terrestre e Celeste)” (Botelho 1960: 7-17).

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