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Revista de Letras - Utad

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Cartas do meu rio, Douro… 367Em Londres os lords e em Paris os snobsno Cabo e no Rio os fazen<strong>de</strong>iros ricosacham o Porto um sabor divino,mas a nós só nos sabe, só nos sabe,à tristeza infinita <strong>de</strong> um <strong>de</strong>stino.O rio Douro é um rio <strong>de</strong> sanguepor on<strong>de</strong> o sangue do meu povo corre.Meu povo, liberta-te, liberta-te!Liberta-te, meu povo! – ou morre. (Namorado 1987, 2006: 13).Os últimos versos colocam-nos perante o combate que se trava no Douro,entre David e Golias, isto é, entre o homem duriense e a Natureza, em luta pelasobrevivência; entre o arrais e o rio, durante séculos, na fuga ao perigo; entre oagricultor e os comerciantes, quando eram os únicos a vencerem a aspereza <strong>de</strong>encostas e montes; entre o rabelo e o comboio, em disputa pelo meio <strong>de</strong>transporte dominante; entre, ainda, Antão <strong>de</strong> Carvalho com a geração dosPaladinos e o Terreiro do Paço, no braço <strong>de</strong> ferro pela criação do que veio a ser aCasa do Douro; e hoje entre os pequenos agricultores e as gran<strong>de</strong>s companhias,na disputa <strong>de</strong> um mercado que os primeiros vêem fugir-lhes das mãos; entre, porfim, os jovens e a educação, vendo aqueles o emprego e o futuro, a afastarem-se<strong>de</strong> si e da região.Todavia, todos partilham a mesma realida<strong>de</strong>, a cultura da vinha, assim,apresentada por Correia <strong>de</strong> Azevedo:É em torno da Régua que a cultura da vinha se patenteia no seu maisviçoso esplendor. […] Em nenhuma outra parte como quem <strong>de</strong>sce <strong>de</strong>Lamego ou <strong>de</strong> Armamar, o Douro se […] apresenta nesta […] imponênciapaisagística […]. Os vinhedos esten<strong>de</strong>m-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o topo dos montes {…]até às casas da vila […], <strong>de</strong>ixando a dupla impressão:- foi aqui que se plantaram as primeiras vinhas que <strong>de</strong>ram o primeirovinho do Porto e- daqui partiu o primeiro impulso e movimento <strong>de</strong> colonização que sepropagou pelo Douro acima. (Azevedo, s/d.: 6).Esta cultura da vinha teve, no início do século XX, um dos momentos maisdramáticos, mas, também, dos mais produtivos, criando uma estrutura que aindahoje se mantém, porventura moribunda, a Casa do Douro. Foi a geração dosPaladinos do Douro, sob a li<strong>de</strong>rança carismática <strong>de</strong> Antão <strong>de</strong> Carvalho queimpôs ao governo, ao país e à região a or<strong>de</strong>m das coisas no envio para Inglaterrado vinho do Porto, aquele que era produzido na região. Com ele estavamAmâncio <strong>de</strong> Queirós, Amílcar <strong>de</strong> Sousa, Artur Pinto Ribeiro, Carlos Amorim,Júlio Vasques, Nuno Simões, Torcato <strong>de</strong> Magalhães e Vítor <strong>de</strong> Macedo Pinto,

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