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Revista de Letras - Utad

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Quando a História oficial se encontra com a Literatura 207<strong>de</strong> uma lenda (estória), ou da invenção <strong>de</strong> uma lenda, <strong>de</strong>smonta-se a lenda ouencontra-se a verda<strong>de</strong> matricial da lenda através <strong>de</strong> uma tese científica para sevoltar <strong>de</strong> novo à estória a que o romance dá voz: parte-se da Literaturatradicional (<strong>de</strong> tradição oral) para se chegar à Literatura canónica. A Literatura éo ponto <strong>de</strong> partida para a tese académica e a tese académica, por sua vez, a pontepara a Literatura. O romance vem mostrar-nos que a História registou umdiscurso forjado, conveniente, propondo-se contar uma nova versão da História,a versão <strong>de</strong> Jorge Laiginhas.Não será a História oficial também feita <strong>de</strong> ficção? Estória versus Históriavai ser, <strong>de</strong> facto, o filão do romance <strong>de</strong> Jorge Laiginhas que se constitui comouma sátira jocosa e grotesca com vista a provocar o <strong>de</strong>smoronamento da versãoda História oficial.O romance apresenta-se como um verda<strong>de</strong>iro exercício paródico, alicerçadonuma teia <strong>de</strong> citações e <strong>de</strong> pseudo-citações através da qual <strong>de</strong>liberadamenteocorre a “fusão” da História com a ficção. Discurso científico e pseudo--científico é glosado para se mostrar como se constrói a ficção da História,revelando-nos uma história da ficção.Analisemos, então, em primeiro lugar, as conexões entre a lenda, o discursocientífico e o romanesco, para passarmos, <strong>de</strong>pois, à análise da paródia que ocorreno romance.Carlos Reis e Ana Cristina Macário Lopes, no Dicionário <strong>de</strong> Narratologia,apresentam uma noção <strong>de</strong> lenda que nos convém tornar presente:No campo da literatura tradicional <strong>de</strong> transmissão oral, lenda <strong>de</strong>signauma narrativa em que o facto histórico aparece transfigurado pelaimaginação popular: não se trata, pois, <strong>de</strong> uma reconstituição objectiva e«documental» <strong>de</strong> um facto ocorrido num passado remoto, mas sim <strong>de</strong> umanarrativa <strong>de</strong> carácter ficcional, que foi sendo transmitida <strong>de</strong> geração emgeração. (Reis e Lopes 1990: 216).Jorge Laiginhas esclarece na sua Introdução que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época daelaboração da sua tese <strong>de</strong> mestrado que “algo me diz haver um fundo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>na lenda do Cachão das Lajas Más, na margem direita do rio Tua, a cerca <strong>de</strong>uma légua da foz do rio Douro” (Laiginhas 2007: 10) 2 .2 A lenda <strong>de</strong>svendada por Jorge Laiginhas no <strong>de</strong>correr do romance consiste no seguinte:D. Lourenço Viegas, meio-irmão <strong>de</strong> D. Afonso Henriques, primeiro rei <strong>de</strong> Portugal, ter-se-árefugiado no Cachão das Lajas Más, preten<strong>de</strong>ndo escapar à justiça d’el-rei D. Sancho I;D. Lourenço Viegas ameaçava tornar público um segredo que, se chegasse aos ouvidos do«imperador das Espanhas», seria o fim da, ainda mal enraizada, in<strong>de</strong>pendência do reino <strong>de</strong>Portugal. Diz ainda a lenda que quem se aventurar a <strong>de</strong>scer a enorme fraga que leva ao dito cachão<strong>de</strong>saparecerá para todo o sempre.

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