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Revista de Letras - Utad

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174 Laura Alves e Armindo MesquitaÉ possível observar também que estas crianças estabelecem relações <strong>de</strong>finidassegundo seu contexto <strong>de</strong> origem, interagindo com uma pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linguagensfazendo uso das relações sociais e culturais, como bem ressalta Bakhtin. Alémdisso, também estabelecem a relação entre sentido e significado, formandosistemas simbólicos que constituem o seu discurso narrativo.A criança da Amazónia, em contato com o contexto cultural da região,<strong>de</strong>senvolve uma teia <strong>de</strong> significações simbólicas <strong>de</strong> sua cultura, e, ao seapropriar <strong>de</strong>sse universo cultural, elabora um imaginário imbuído <strong>de</strong>representações míticas que <strong>de</strong>termina a poética da narrativa. ParafraseandoBakhtin, o narrador se i<strong>de</strong>ntifica com a voz <strong>de</strong> toda socieda<strong>de</strong> (a voz do social).Além disso, a narrativa nasce ao longo do encontro <strong>de</strong> vozes diferenciadas quese somam, se contradizem, se homologam e se afirmam uma com as outras.Como tantas outras peculiarida<strong>de</strong>s da região, os mitos e as lendas, que compõema mitologia amazónica e povoam o imaginário do caboclo, ainda não foramsuficientemente pesquisados e estudados, principalmente quanto à sua pertençano discurso narrativo da criança.À guisa <strong>de</strong> conclusãoComo nos diz Bakhtin, a intertextualida<strong>de</strong> é o processo em que seincorporam percursos temáticos e/ou figurativos, além <strong>de</strong> temas e/ou figuras <strong>de</strong>um discurso em outro, <strong>de</strong> um texto em outro, ou seja, a intersecção dos doistextos – a voz do texto base (escrito ou oralizado) na voz do texto narrado.Os textos narrados pelas crianças da Amazónia paraense se constroem como ummosaico <strong>de</strong> citação e é absorção e transformação dum outro texto cristalizadopela memória <strong>de</strong> seu autor-criador, pois, no texto narrado, há diversos discursos,diversas vozes do texto escrito e/ou oralizado; sob um <strong>de</strong>terminado texto ressoao diálogo <strong>de</strong> outro texto ou outros discursos sob voz <strong>de</strong> um enunciador(narrador), isto é, há outro texto ou outra voz.Aos olhos <strong>de</strong> Bakhtin, percebe-se que as crianças-narradores da Amazóniaparaense penetram na cultura pela linguagem, internalizando um universo <strong>de</strong>significações. É através da cultura que elas criam i<strong>de</strong>ias e consciências aoproduzir e reproduzir a realida<strong>de</strong> social. Assim, o dialogismo se refere àspossibilida<strong>de</strong>s abertas e infinitas geradas por todas as práticas discursivas <strong>de</strong>uma cultura, toda a matriz <strong>de</strong> enunciados comunicativos. Sabe-se é que naAmazónia paraense a sobrenaturalida<strong>de</strong> é naturalida<strong>de</strong>, pois a cultura ancora-sena natureza exuberante que fazem as histórias, sobretudo as lendas, a não<strong>de</strong>saparecerem porque nunca <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> existir.O espaço amazónico nos oferece uma floresta <strong>de</strong> símbolos que evocaelementos que dão expressões à comunida<strong>de</strong>. A cultura para as crianças daAmazónia representa a memória comum <strong>de</strong> seu povo e se constitui num

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