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Revista de Letras - Utad

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266 Américo Teixeira Moreirae socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixaram brechas no registo da história das gentes do Douro,começa, actualmente, a mudar, no espaço, no tempo, e na vertente <strong>de</strong> olhar, <strong>de</strong>cá e <strong>de</strong> lá, ganhando relevância acrescida, a vertente turística.Numa expressão feliz, a Dra. Hercília Agarez, numa intervenção, apropósito da apresentação <strong>de</strong> um livro, afirmou que “o Douro nunca sacia aspessoas que estão se<strong>de</strong>ntas”, naturalmente, referia-se à beleza rebel<strong>de</strong> queemana das vertentes do Douro mais profundo, das raízes intactas do “reinomaravilhoso” <strong>de</strong> que fala Torga e que a todos fecunda com a sua paisagem <strong>de</strong>beleza impressionante.Mas, se o Douro nunca sacia <strong>de</strong> beleza as pessoas que o visitam, mais oumenos ao longo <strong>de</strong> 130 km, para nos situarmos apenas nas nossas fronteiras,ziguezagueante no fundo <strong>de</strong> vertentes escarpadas e falésias rasgadas no sossego,quase selvagem, dos fraguedos, ou nas encostas trabalhadas na trágica labutação<strong>de</strong> homens e mulheres do passado, plantando as vinhas, as oliveiras, asamendoeiras, mas também os bosques <strong>de</strong> azinheiras, sobreiros, choupos,zimbros, zambujeiros que fartam <strong>de</strong> excesso os olhos e esmagam as almas maistristes e pedrenidas, suavizando-as com idílicos xistais das arribas e ou valesrecortados por imponentes verticalida<strong>de</strong>s e que são, afinal, a memória <strong>de</strong>staregião em metamorfose porque permanente emprenhada por um telúricosentimento criador <strong>de</strong> vida, não é menos verda<strong>de</strong> que um longo e profundoesquecimento povoou estas mesmas paisagens com gentes que sofreram, <strong>de</strong>forma injusta e <strong>de</strong>sleixada, a solidão da interiorida<strong>de</strong>. Talvez, por isso, nestereino, reine ainda a voz genesíaca e se<strong>de</strong>nta <strong>de</strong> beleza, embora não aconcheguenem melhor, só por si, o estômago e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das pessoas reais,concretas, que aqui vivem.Torga, esse filho gran<strong>de</strong>, na proporção da originalida<strong>de</strong> e humilda<strong>de</strong> <strong>de</strong>stasterras, encheu <strong>de</strong> cânticos cada miradouro, cada cascata faminto <strong>de</strong> ternura, paraque os vazios litológicos acompanhassem a erosão do sofrimento provocadopelo abandono e esquecimento a que este reino foi votado.Tento seguir, sem pedir licença à Musa, num silêncio leve e livre, omurmúrio do rio, na espera do tempo que aqui não passa, ou que aqui ainda se<strong>de</strong>mora, sem preocupações mundanida<strong>de</strong>s, irmanado na cosmologia e napaisagem, consciente <strong>de</strong> que serei aceite pelos evolucionistas mercantilistas,Quero, na escutação dos insectos <strong>de</strong>sfalecidos, na bruma turva do Marão, nasentranhas abertas <strong>de</strong>ste Douro, ora rebel<strong>de</strong> e violento, ora submisso e dócil, serum pós-mo<strong>de</strong>rnista encantado, por esta cosmologia, que se <strong>de</strong>ixa guiar pelamagia <strong>de</strong>ste ambiente ainda protegido dos excessos mercantilistas.Quer isto dizer que apoio o progresso, o <strong>de</strong>senvolvimento sustentado, avalorização <strong>de</strong> estratégias, com enfoque na vertente do turismo, na organizaçãodo território e preservação do património natural, numa acção concertada <strong>de</strong>

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