Revista de Letras - Utad

416 Henriqueta Maria GonçalvesJosé Eduardo Rodrigues, pseudónimo literário de José Alves Ribeiro,oferece ao leitor Paraíso Revisitado – Roteiro Poético Alfacinha e Duriense,uma publicação de Mil@Editores. Na introdução à obra, o autor apresenta-acomo «livrinho de poemas» (p. 15), «anotações poéticas que fui registando aolongo do meu percurso de vida em jeito de diário» (p. 15), esclarecendo que« todos os poemas estão datados e com o registo do local onde cada um tevealguma fonte de inspiração» (p. 15). Estamos, portanto, perante uma apreensãosubjectiva do mundo, intuída pelo sujeito poético e da qual resultaramapontamentos escritos que antes de serem escritos foram voz interior.O «livrinho» apresenta-se dividido em duas partes, Ciclo da terra – roteirovisceral e Ciclo do luar – roteiro sentimental; cada uma das partes estásubdividida em capítulos que seguem uma sequência cronológica com indicaçãodo local que terá suscitado o exercício de escrita, o que, de facto, aproxima aobra da diarística. O subtítulo escolhido conexiona-se igualmente com estaconfiguração diarística dado que um Roteiro é uma indicação de um trajecto, deum percurso, de uma rota 1 , no fundo de uma viagem, que o leitor passa apartilhar com o autor. Este Roteiro, descodificando a metáfora, diz o autor, foium Paraíso que agora autor e leitor podem revisitar dado que o autorproporciona ao leitor a entrada numa parcela da intimidade do seu percurso devida, da sua viagem existencial.A divisão do livrinho em duas partes distintas permite caracterizar essepercurso sob a alçada de duas componentes determinantes no seu modo de sersujeito do mundo: a sua umbilical ligação à terra (ciclo da terra) e a sua atracçãolunar (ciclo do luar). A primeira considerada como roteiro visceral e a segundaconsiderada como roteiro sentimental. A terra e o coração sobredeterminam avisão do mundo do sujeito poético, embora a segunda se sobreponha à primeirana medida em que a apreensão da realidade passa pela exuberante sensibilidadedo sujeito que capta a realidade e se deixa emocionar por ela. Dito de outromodo, Anteu e Eros indicam o impulso do sujeito lírico no seu (s) roteiro (s).O poema que abre este livro de José Eduardo Rodrigues é ilustrativo destaimpossibilidade de separação do que considerou serem dois roteiros: trata-se dopoema « Vindima », dedicado a Miguel Torga. Com um ritmo quaseinconstantemente binário, a traduzir o compasso dos que esmagam a uva,o poema traduz esse impulso congregado em que Anteu e Eros se enlaçam.No entanto, estas duas forças vitais ganham uma componente apolínea namedida em que o eu social criva este texto, como quase todos, pela acusação de1 Concretamente, um Roteiro é um livro de bordo em que se consignam todos os pormenores deuma viagem de descoberta, configuração das costas, descrição dos portos e mares, etc. ou um livroque dá indicações sobre as estradas, caminhos, lugares e distâncias de um país e ainda de ruas, etc.,de povoação importante.