12.07.2015 Views

Revista de Letras - Utad

Revista de Letras - Utad

Revista de Letras - Utad

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Cartas do meu rio, Douro… 365ao longo <strong>de</strong> quase um século me <strong>de</strong>ixou indiferente e sem um comentárioalertador. Fui uma espécie <strong>de</strong> homem da telegrafia no barco acossado pelasondas enfurecidas da realida<strong>de</strong> coetânea a lançar SOSs <strong>de</strong> aflição […].De mim, ireis naturalmente repetir o que consta, como pareço e me<strong>de</strong>claro. Acrescentai que lutei, luto e lutarei até ao <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro alento pelapreservação da [nossa] i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, última razão <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> qualquerindivíduo e colectivida<strong>de</strong> […] (Torga 1993: 129-130)Procurei verbalizar o lastro do ser e fazer do cidadão cultural, mo<strong>de</strong>lo ereferência a seguir.3. Cartas do “local”, duriense, “sem pare<strong>de</strong>s” para o “universal”,nacional e humano“O universal é o local, sem pare<strong>de</strong>s”“Não pintei as coisas <strong>de</strong> Trás-os-Montes para retratar uma realida<strong>de</strong>local. […] não pensei em retratar só o que lá havia, pintei as criaturas <strong>de</strong>Trás-os-Montes mas sem pare<strong>de</strong>s à volta.”(Miguel Torga. In: Jornal <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>, Artes e I<strong>de</strong>ias, 01/02/1995)É o rio, o Douro, que parece fundamentar o sentido da frase <strong>de</strong> Torga, “ouniversal é o local sem pare<strong>de</strong>s”, para além da explicação que ele dá. Poisapenas ele permite o trânsito para fora da centralida<strong>de</strong> telúrica sentida, numângulo <strong>de</strong> 360 graus, por quem está no santuário romano <strong>de</strong> Panóias. Este e o riosão o equilíbrio das forças, centrípetas do templo em direcção à religiosida<strong>de</strong>humana e centrífugas do rio para o universo físico e mental do homem duriense.As pare<strong>de</strong>s do “local” lá estão bem especadas, indo do Marão ao Alvão, àscumeadas <strong>de</strong> Vila Pouca, ao Alto do Pópulo e da Serra das Meadas aosbloqueios do horizonte, a sul e a nascente <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca. Mas<strong>de</strong>saparecem nos textos <strong>de</strong> Torga e no rio, a Oriente e a Oci<strong>de</strong>nte, permitindo afuga para o “universal”.É preciso ir a Panóias, rodar à “volta <strong>de</strong> si próprio”, fixando o horizonte,para sentir este vaivém do “local” ao “universal” e do Oriente ao Oci<strong>de</strong>nte. Aírecuperamos o homem original, perdido no tempo, como perdidas ficaram, nolugar, todas as suas reminiscências religiosas. E a verda<strong>de</strong> é que, nas palavras doP. e João Parente, encontramo-nos perante “o mais famoso santuário rupestre daépoca romana na Península Ibérica, monumento que, no seu tipo, é único nomundo, por ser ele próprio a dizer-nos quem o edificou, a que divinda<strong>de</strong>s foiconsagrado e quais os ritos cultuais aí exercidos” (Correia 1979; Agarez 2007:40)Também a Agustina Bessa Luís, directora <strong>de</strong> O Primeiro <strong>de</strong> Janeiro,apreen<strong>de</strong>u esse isolamento duriense, afora a saída fluvial.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!