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Revista de Letras - Utad

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Cartas do meu rio, Douro… 373colheita dos dois anos seguintes no Douro, por indicação da Feitoria Britânica noPorto. Tal facto levou influentes produtores durienses, resi<strong>de</strong>ntes no Porto, aapelar a uma intervenção política por parte do ministro <strong>de</strong> D. José I, SebastiãoJosé <strong>de</strong> Carvalho e Melo, para actuar sobre a produção <strong>de</strong> modo a quebrar-se omonopólio dos ingleses.Visam a limitação quer <strong>de</strong> novos plantios quer da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> venda <strong>de</strong>vinhos aos ingleses, através da criação <strong>de</strong> uma Companhia. Esta viria a ser aCompanhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, que representou “aprimeira intervenção estatal no negócio <strong>de</strong> vinhos do Douro” – ou seja, maisuma acção do exterior, o “universal”, no interior “local” duriense (Cardoso2003: 23).Pombal tinha consciência das prorrogativas <strong>de</strong> que gozavam os nossosvelhos aliados, pois como refere Lúcio <strong>de</strong> Azevedo (2009: 32), “todo o comérciodo reino passava por eles [e] gozavam imunida<strong>de</strong>s notáveis: dispensa <strong>de</strong>impostos, foro privado e licença para andarem armados, mesmo em lugares on<strong>de</strong>isso era vedado a nacionais”. Na opinião do Marquês, era negativa a suainfluência no sistema económico do país: “Todo o dinheiro que gira é dosingleses, que fazem adiantamentos aos produtores [e] lotam os vinhos efalsificam-nos, <strong>de</strong>struindo a boa fama do produto”.A acção do Marquês <strong>de</strong> Pombal para pôr fim à dominação inglesa nocomércio dos vinhos do Douro ou, dito em bom Português, colocar os inglesesna or<strong>de</strong>m, foi <strong>de</strong>terminada, como mostra a sua argumentação na Carta aoMinistro dos Negócios Estrangeiros da Inglaterra: por causa <strong>de</strong> terem sidoqueimados <strong>de</strong>baixo das nossas fortalezas da costa do Algarve, alguns naviosfranceses. Vejamos.Ilustríssimo e Excelentíssimo SenhorRogo a V. Exa. que me não faça lembrar as con<strong>de</strong>scendências que onosso Gabinete tem tido para com o seu. Elas são tais, que eu não sei sealguma Potência as haja tido semelhantes para com outra.Vós não fazíeis ainda figura alguma na Europa, quando a nossaPotência era a mais respeitável. A vossa ilha não formava mais do que umponto na Carta [no mapa] ao mesmo tempo que Portugal a enchia com oseu nome […].A moeda <strong>de</strong> contado vos faltava. […]De há cinquenta anos, porém, a esta parte, ten<strong>de</strong>s tirado <strong>de</strong> Portugalmais <strong>de</strong> mil e quinhentos milhões, soma enorme <strong>de</strong> que a História nãofornece exemplo que nação alguma, do mundo, tenha enriquecido a outra<strong>de</strong> um modo semelhante. […]Mas se vos temos elevado a esse ponto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za, na nossa mão estáo precipitar-vos no nada <strong>de</strong> que vos arrancámos. Nós po<strong>de</strong>mos melhorpassar sem vós, do que vós sem nós. […]

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