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Revista de Letras - Utad

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170 Laura Alves e Armindo Mesquitaouvir e a contar histórias, como em toda as regiões rurais do mundo em que acultura oral predomina sobre a escrita.Sabe-se que o homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado.Ele é um her<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> um longo processo acumulado <strong>de</strong> conhecimentos eexperiências adquiridas pelas gerações que o antece<strong>de</strong>ram. Assim, amanipulação a<strong>de</strong>quada e criativa <strong>de</strong>sse património cultural fez com que, aolongo da história do povo amazónico, os seres encantados fossem seconstituindo numa espécie <strong>de</strong> porta para o irreal, ou seja, um vetor mitológicoque se <strong>de</strong>staca esteticamente e que brota no universo imaginário do amazónida,algo que ao mesmo tempo encobre e explica a realida<strong>de</strong>. As lendas e mitos doestado do Pará dão a i<strong>de</strong>ia perfeita do caleidoscópio <strong>de</strong> magia e <strong>de</strong> histórias <strong>de</strong>encantamentos e <strong>de</strong> encantados na narrativa das crianças paraenses: é a forçavibrante das raízes culturais do homem da região.A criança e a poética do imaginário da AmazóniaO imaginário da criança é um mundo repleto <strong>de</strong> fantasias, invenções, i<strong>de</strong>iase <strong>de</strong>vaneios. Nele está a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir percepção não só <strong>de</strong> conteúdossensíveis <strong>de</strong> seu meio social como também <strong>de</strong> conteúdos imagináveis. Issosignifica que as relações que a criança <strong>de</strong>senvolve com o meio social são, muitasvezes, internalizadas através do discurso narrativo. Além disso, por meio dodiscurso narrativo, a criança mergulha no seu imaginário, no vaivém entremundo real e mundo imaginado.Ao falar sobre a especificida<strong>de</strong> da infância quanto ao predomínio daimaginação, Lobato (apud Lopes 1999: 21) diz que a criança é um serespecialíssimo “(...) em conseqüência, o seu alimento moral há <strong>de</strong> ser algoespecial. Na criança a imaginação predomina em absoluto. Ela vive nummundinho irreal e <strong>de</strong>le só sai para ir penetrando nas duras e cruas realida<strong>de</strong>s,quando o natural <strong>de</strong>senvolvimento do cérebro, a intensida<strong>de</strong> imaginativa vai-seapagando”.As crianças da Amazónia vivem em um meio social carregado <strong>de</strong>significações, i<strong>de</strong>ologias, histórias e cultura muito singular. Elas têm umrepertório narrativo constituído <strong>de</strong> elementos típicos do imaginário mitopoéticodo amazónida. No espaço amazónico, a cultura busca a segurança na natureza,numa floresta <strong>de</strong> símbolos a serem <strong>de</strong>cifrados. Como diz Loureiro (1995: 103),sobre o homem amazónida constata-se a existência <strong>de</strong> uma evanescência lógicapoética, <strong>de</strong> um povo ainda guiado pela memória, pela palavra oralizada, pelomaravilhamento diante da realida<strong>de</strong> quotidiana (...). A vida social aindapermanece impregnada do espírito da infância, no sentido <strong>de</strong> encontrar-se com aexplicação poetizada e alegórica das coisas.

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