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Revista de Letras - Utad

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228 Maria Luísa <strong>de</strong> Castro SoaresSeu coração, marítimo e serrano,era o mar e a montanha. Dentro <strong>de</strong>letomavam por milagre aspecto humanoáguas revoltas, nuvens e sauda<strong>de</strong>s...(I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m)Mar e Montanha são, porém, mais míticos que reais: têm uma funçãosimbólica. São os dois pressupostos em que assenta e se processa a revelação daVerda<strong>de</strong> portuguesa. O Mar e a Montanha, na perspectiva do Saudosismo −entendido como “uma espécie <strong>de</strong> filosofia nacional messiânica” (Nemésio s/d:229) − são afirmação da “alma portuguesa”, que o poeta <strong>de</strong>seja implantar“na terra portuguesa, para que Portugal exista como Pátria” (Pascoaes, inGuimarães 1988: 71]) 11 .Mar e Montanha são verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma Fé voluntarista, concebida pelo seuprofeta. São dados da memória (Pascoaes 1997 a : 234) 12 e da revelação. Como tal,estão além do referente real. Não sendo anti-referenciais, são supra-referenciaise polarizam o percurso iniciático do herói.Num primeiro tempo, esse itinerário <strong>de</strong> Marânus é marcado pela dispersão ea solidão, expressas pelo diálogo com entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>le distintas, que são, aindaassim, mais complementares do que adversativas (cf. caps. “Marânus eEleonor”; “Marânus e a Pastora”; “Marânus, Eleonor e a Pastora”; “Marânus e aPaisagem”; “Marânus e a Sombra do Marão”; “Marânus e a Sauda<strong>de</strong>”; “Marânuse o Outono”; “Marânus e os Deuses”, etc.) 13 .Num segundo tempo, aquele estado <strong>de</strong> ausência, <strong>de</strong> falta, <strong>de</strong> perda ou <strong>de</strong>diminuição <strong>de</strong> si, ten<strong>de</strong> ao estado <strong>de</strong> coesão, <strong>de</strong> reunião, <strong>de</strong> autonomia, <strong>de</strong>reconhecimento da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. No capítulo “Marânus, a Sauda<strong>de</strong> e D. Quixote”,o “luso peregrino” é já “esposo” da Sauda<strong>de</strong>. E é nessa condição que ambosacolhem o estrangeiro, “o heróico e triste Cavaleiro” (Pascoaes 1990: 93), quecaiu no erro <strong>de</strong> uma existência apenas em espírito (I<strong>de</strong>m, 89).É na posse da sua Sauda<strong>de</strong> que Marânus reconhece a Alterida<strong>de</strong>:Sois estrangeiro e cavaleiro. Andaiserrático e perdido(I<strong>de</strong>m, 88)11 No dizer <strong>de</strong> Mário Garcia, “no auge da campanha saudosista [Pascoaes] não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> explorarsimbolicamente as coor<strong>de</strong>nadas do êxtase e da energia, que a Montanha e o Mar representam, paraa <strong>de</strong>finição completa da sauda<strong>de</strong>”(Garcia 1989: 64).12 Memória, mais uma vez, não se confun<strong>de</strong> com recordação vivida no passado. É aquela memóriavestigial e rácica, “dum tempo anterior à nossa vida”, como o refere Pascoaes em “A minhaHistória” (Pascoaes 1997 a : 234).13 Capítulos I, II, III, IV, VI, VII, VIII, IX, etc. (Itálicos nossos.)

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