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Revista de Letras - Utad

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Marão: Rota do Sagrado em Teixeira <strong>de</strong> Pascoaes 223Eu creio que um novo Messias há-<strong>de</strong> baixar, saudoso e quixotesco docéu da Ibéria (Pascoaes 1987: 174).Mas é claro que o conceito messiânico <strong>de</strong> ressurreição só é passível <strong>de</strong> serforjado num contexto sócio-cultural <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência. Daí o propósito re<strong>de</strong>ntorpascoalino <strong>de</strong> que “<strong>de</strong>ve competir ao povo português” converter “a i<strong>de</strong>ia daRenascença, (…) génio colectivo” (Pascoaes 1991: 113),“em concreta realida<strong>de</strong>social ou nova civilização” (I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m).Na verda<strong>de</strong>, a aventura colectiva da Renascença dada por Camões e além<strong>de</strong>le, a visão <strong>de</strong>sse mundo aberto oferecida ao (e pelo) homem português, <strong>de</strong>dimensão transnatural e trans-humana será recriada por Pascoaes, <strong>de</strong> acordo coma visão mística da pátria, da poesia e da espiritualida<strong>de</strong> portuguesas, emMarânus.A Os Lusíadas, os “Evangelhos do Mar” (na acepção <strong>de</strong> Pascoaes) seguem--se os Evangelhos da Montanha. Estes estarão em relação àqueles comocontinente englobante <strong>de</strong> um conteúdo: o espírito (Sauda<strong>de</strong> como reino dalembrança) gera-se no corpo (Sauda<strong>de</strong> como reino do <strong>de</strong>sejo).Num percurso a dois momentos <strong>de</strong> “vida” da Sauda<strong>de</strong>: o do Mar e o daMontanha, o homem luso dirige-se – através dos génios da raça – para um novotempo: o da Era Lusíada anunciada por Pascoaes. Trata-se da sublimação dopovo luso 4 , elevado a uma “supra-humanida<strong>de</strong> espiritual”.À <strong>de</strong>manda messiânica <strong>de</strong> um império telúrico que se anuncia em Camões,sobrepõe-se com Pascoaes a <strong>de</strong>scoberta auroral <strong>de</strong> um novo mundo, noreconhecimento da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> saudosa portuguesa, ou antes, a <strong>de</strong>mandamessiânica <strong>de</strong> um mundo transcen<strong>de</strong>nte do espírito. É na lógica <strong>de</strong>ste contextoque António Cândido Franco afirma que “o maronesco substituiu o marítimo”(Franco 1992: 59) e que “o livro que se segue a Os Lusíadas <strong>de</strong> Luís <strong>de</strong> Camõesnão é a Mensagem <strong>de</strong> Fernando Pessoa, mas sim o Marânus <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong>Pascoaes” (I<strong>de</strong>m, 61). Nesta obra, a aventura <strong>de</strong> Marânus na “alta e santamontanha omnipotente” (Pascoaes 1990: 36) só tomada na sua dimensãotranspessoal revelará, nessa personagem, o português <strong>de</strong> sempre “o eternoperegrino / das solidões da terra e do infinito” (I<strong>de</strong>m, 86).A missão transoceânica dos Descobrimentos cantada n’Os Lusíadas erepresentada pelo Gama não é alheia ao caminho iniciático do “luso peregrino daAventura”, personagem central <strong>de</strong> Marânus. Consi<strong>de</strong>ramos ser a sua condição: a<strong>de</strong>scoberta do mar imenso abre campo à <strong>de</strong>scoberta da montanha sagrada, em4 Esta sublimação do povo luso anunciada por Pascoaes na Era Lusíada po<strong>de</strong>rá encontrarequivalente semântico-simbólico na “Ilha dos Amores” camoniana (Camões 1972: IX, 18 – X,143. Cf. Ramalho 1980; Saraiva s/d; Silva 1994).

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