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Revista de Letras - Utad

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A Cultura Duriense na Poesia <strong>de</strong> António Cabral 307as suas palavras, António Cabral “É o poeta que mais canta a região emquantida<strong>de</strong> e que presta mais atenção ao Douro laboral. Não propriamente apaisagem muito bonita, mas os dramas humanos que se passam no Douro, comoo cultivo ou a exploração do trabalhador” (Pires Cabral, citado por Correia2009).No poema “Homo, mensura”, incluído em Poemas Durienses, <strong>de</strong> 1963,escreve: “Eu não irei convosco, puros habitantes do sonho./ O meu lugar é aqui,entre os homens:/ falo a sua linguagem, sinto as suas dores (…)” (Cabral 1963).O poeta mantém com os outros homens um pacto <strong>de</strong> união, pois através da suaarte e da sua voz mostra uma consciência solidária cantando com e para o seupovo, as dores, as lágrimas e angústias do Douro humano.Segundo o poeta a região do Douro é “o paraíso do vinho e do suor”fortemente marcada pelo rio Douro, que lhe corre nas veias com todo o seucaudal <strong>de</strong> sofrimento, mas também <strong>de</strong> esperança. Este sentimento revela-se notrabalho árduo dos “homens <strong>de</strong> camisas empastadas” (Cabral 1999: 13) que <strong>de</strong>sol a sol redram “vi<strong>de</strong>ira a vi<strong>de</strong>ira, / pegados à enxada, / comendo poeira”(Cabral 1999: 47). Os montes por lavrar provocam <strong>de</strong>sespero, mas é este chãoque lhes po<strong>de</strong> dar alimento para a sua subsistência, daí um amor pela terra e umaesperança que o fazem sonhar por um futuro melhor. No poema o “LavradorPercorrendo a vinha”, o poeta <strong>de</strong>screve o sentimento <strong>de</strong> satisfação ao andar noterreno cuidado por si: “(…) Uma vi<strong>de</strong> que toca é um músculo vibrando; / umcacho que <strong>de</strong>scobre é um pensamento novo” (Cabral 1999:38).Já na “Carta ao Jorge”, o sujeito poético convida a personagem, Jorge,estrangeiro e poeta, a olhar as encostas trabalhadas pelo braço do homem “<strong>de</strong>s<strong>de</strong>a podoa ao tractor” (Cabral 1999: 45). Sugere que ambos <strong>de</strong>sçam até ao rio e quevoltem a subir a encosta <strong>de</strong>senhada por “(…) geios <strong>de</strong> vinha, / escadas, umaraiva <strong>de</strong> escadas” (Cabral 1999: 45) (…), porque só (…) “suando,compreen<strong>de</strong>rá(s) o suor / e as i<strong>de</strong>ias, ora cravos, ora cardos das (…) faces queenrugam, / paralelas ao sonho” (Cabral 1999: 45). O poeta canta o <strong>de</strong>sgastefísico daquele que trabalha na terra. As mãos ossudas e calosas, os lábiosgretados da secura do sol, o rosto rochoso como as vinhas fazem o poeta criarum hino ao lavrador duriense, no poema “Aqui, o Homem”.AQUI, O HOMEM(…)Nem Baco nem meio Baco!Aqui é o homemQue nada há que não suporte,Mas suporta e persiste.Aqui é o homem até à morte. (Cabral 1999:21)

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