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Revista de Letras - Utad

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226 Maria Luísa <strong>de</strong> Castro Soaresespiritualmente, em dádiva amorosa, 6 nascerá um Messias português. No“Santificado corpo” da Sauda<strong>de</strong> “germina”, diz-nos Marânus:A glória do meu Povo e o seu futuro,uma nova esperança, que é divina(Pascoaes 1990: 93)Estamos diante <strong>de</strong> um novo Cristo que <strong>de</strong>ve salvar um povo. Ouçamos opoeta-profeta, nessa invocação tradutora do êxtase lusíada:Ó Sauda<strong>de</strong>, ó Sauda<strong>de</strong>, ó Virgem Mãe,que sobre a terra santa portuguesaconceberás, isenta <strong>de</strong> pecado,o Cristo da esperança e da beleza!(I<strong>de</strong>m, 59) 7É o próprio drama da re<strong>de</strong>nção que transita livremente no tempo e noespaço e se aplica à causa nacional. Inversamente a uma nação <strong>de</strong>generada pelasinfluências estranhas, on<strong>de</strong> vigora “o figurino francês <strong>de</strong> mistura com a asneiranacional” (Coimbra 1911: s/p), uma nação <strong>de</strong>vorada pelo materialismo, peloprogresso tecnológico, Marânus, na sua caminhada a isso oposta, é o Portuguêsem busca da sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> espiritual. Ainda <strong>de</strong>sta vez a salvação se alimenta dopassado reabilitado, <strong>de</strong>ssa situação – tensão que, sobre o <strong>de</strong>sespero (aliásomitido), se abre à esperança:E entre as velhas lembranças, a sorrir,Percebia-se o vulto da esperança.Ve<strong>de</strong> a imagem das cousas que hão-<strong>de</strong> vir,a sagrada lembrança do Futuro(I<strong>de</strong>m, 145)No universo pascoalino, o passado não é apenas o que ficou para trás, poisque, se assim fosse, preten<strong>de</strong>r revivê-lo seria um verda<strong>de</strong>iro anacronismo. É todoo movimento da memória, não só como recordação (concreta ou abstracta,positiva ou imaginária), mas como memória rácica, vestigial; o inconscientecolectivo <strong>de</strong> Jung, 8 que se abre em “suprema e final revelação” (I<strong>de</strong>m, 147).6 A entrega <strong>de</strong> Marânus à Sauda<strong>de</strong> é indubitavelmente espiritual: “ver” (a menos física dassensações) é “pertencer”, na óptica <strong>de</strong> Pascoaes: “Ó minha amada esposa, eu te pertenço / <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aamorosa tar<strong>de</strong> em que te vi / <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a mulher que foste à Deusa etérea” (Pascoaes 1990: 102).7 O poeta é claro nessa i<strong>de</strong>ntificação da Sauda<strong>de</strong> à Virgem e do Novo Deus lusitano a Cristo: um“novo Deus menino rezado pela nova Profecia” (Pascoaes 1990: 59).8 O místico <strong>de</strong> Regresso ao paraíso chega a associar ao seu saudosismo a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> memóriaadâmica ou edénica. É ela o impulso para o “novo Paraíso” (Pascoaes 1986).

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