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Revista de Letras - Utad

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210 Henriqueta Maria Gonçalvesafirma quando, no texto citado, diz: “aquilo que nos chega não são verda<strong>de</strong>sabsolutas, são versões <strong>de</strong> acontecimentos mais ou menos autoritárias, mais oumenos respaldadas pelo consenso social ou pelo consenso i<strong>de</strong>ológico ou até porum po<strong>de</strong>r ditatorial que dissesse «há que acreditar nisto, o que aconteceu foi istoe portanto vamos meter isto na cabeça»”.O romance O Segredo <strong>de</strong> D. Afonso Henriques <strong>de</strong> Jorge Laiginhas estáestruturado em capítulos, alguns dos quais apresentam secções, que, àsemelhança da tese académica, têm um título, que indica ao leitor a matériaversada.A utilização da citação percebe-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro período do romance, oque induz, em termos literários, uma prática discursiva <strong>de</strong> natureza intertextualque interessa, naturalmente, problematizar.Des<strong>de</strong> logo, se tivermos em conta o que <strong>de</strong>ixámos dito atrás, a utilização<strong>de</strong>sse texto invocado (pelo itálico, pelas aspas, pela referência à fonte) é tambémprática corrente na tese académica. Se consi<strong>de</strong>rarmos gran<strong>de</strong> parte do teor dosfragmentos, percebemos que eles são forjados pelo autor textual, havendo umpropósito paródico <strong>de</strong> índole satírico-jocosa que procura atingir dois alvos:preten<strong>de</strong> pôr em causa a serieda<strong>de</strong> das fontes utilizadas nos trabalhosacadémicos, ou pelo menos a falibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas fontes, e, em última análise, poressa via, mostrar como a História é feita com muita fantasia. O autor do texto,construindo um texto sobre o texto, vai mostrando como o discurso oficial seconstrói.J. Cândido Martins consi<strong>de</strong>ra a paródia como imitação ou <strong>de</strong>formaçãocómica, marginal e parasitária <strong>de</strong> um texto ou obras conhecidos (Martins 1999:1418).Carlos Ceia caracteriza a paródia como uma “<strong>de</strong>formação criativa <strong>de</strong> umtexto tido historicamente por mo<strong>de</strong>lar” (Ceia 1998: 59). Por tal facto, segundo omesmo autor, o texto parodiado <strong>de</strong>ve ser colocado em situação <strong>de</strong> cómico (Ceia1998: 59). Embora nem sempre assim aconteça, como reconhece Ana PaulaArnaut (cf. 2002: 266-267), interessa-nos reter a faceta da paródia que se associaa um pendor cómico-satírico que reflecte sobre a relação rica e complexa dodiscurso parodístico com as técnicas textuais da citação, do plágio, da alusão,referência e reescrita e com géneros do cómico literário como a ironia, a sátira, oburlesco, o pastiche, técnicas que têm em vista a <strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong> textos oucódigos que se preten<strong>de</strong>m pôr em causa (cf. Hutcheon 1991: 169).A técnica da paródia assume neste romance um propósito cómico-satíricoque procuraremos <strong>de</strong>monstrar pelo acompanhamento do texto.Vejamos, então, alguns exemplos <strong>de</strong> como a citação ou pseudo-citaçãoocorre:

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