12.07.2015 Views

Revista de Letras - Utad

Revista de Letras - Utad

Revista de Letras - Utad

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A História n’ “A Inaudita Guerra” <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Carvalho 325<strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m. Por isso, era com prepotência e violência que, algumas vezes, sefaziam obe<strong>de</strong>cer.5. (In)coincidências entre dois temposA intersecção das duas épocas, que é explicada <strong>de</strong> forma muito simples –bastou um adormecimento da <strong>de</strong>usa Clio, uma pequena distracção – não é casualnem ingénua. O cruzamento temporal tem uma intenção marcadamentei<strong>de</strong>ológica, já que não só permite um paralelismo entre o caos do tráfego emLisboa e a confusão gerada pela invasão do exército árabe em Lixbuna, comotambém permite lançar um olhar crítico sobre o modus vivendi dacontemporaneida<strong>de</strong>.A <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m na capital é tal que el-Muftar, ao ver tal “pan<strong>de</strong>mónio”, julga-ofruto <strong>de</strong> maldição infernal ou <strong>de</strong> artes mágicas:Teriam tombado todos no inferno corânico? Teriam feito algum agravoa Alá? Seriam antes vítimas <strong>de</strong> um passe <strong>de</strong> feitiçaria cristã? Ou tratar-se-ia<strong>de</strong> uma partida <strong>de</strong> jinns encabriolados? (Carvalho 1992: 29)Os árabes, não compreen<strong>de</strong>ndo o fenómeno, agem por instinto e comviolência:Desprezivamente, Ibn Muftar <strong>de</strong>u uma or<strong>de</strong>m e logo vinte archeirosenristaram os arcos, com um zunido tenso, uma saraivada <strong>de</strong> setas, queobrigou toda a gente a meter-se nos automóveis e a procurar refúgio nasportadas dos prédios ou atrás dos camiões. (Carvalho 1992: 31).À semelhança dos árabes, os agentes policiais, criaturas broncas e semqualquer preparação para lidarem com a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m e com situações imprevistas,actuam sem uma avaliação rigorosa da situação, <strong>de</strong> modo impulsivo e brutal.O comissário Nunes, ao ouvir um gran<strong>de</strong> apupo vindo do Areeiro, consi<strong>de</strong>rouque a “canalha” <strong>de</strong>safiava a polícia e, recorrendo à violência gratuita, or<strong>de</strong>nou:– Toca a varrer isto tudo – disse. E, puxando do apito, pôs a equipa emacção, à bastonada, a eito, por aqui e por além. (Carvalho 1992: 31)O comportamento dos automobilistas, tão pouco civilizados, também po<strong>de</strong>ser consi<strong>de</strong>rado bárbaro. Com efeito, para além do barulho ensur<strong>de</strong>cedor quefazem com os motores, os “travões a fundo” e as buzinas (Carvalho 1992: 27),fazem uma “tremenda algazarra” (Carvalho 1992: 31), provocam a “balbúrdia”(Carvalho 1992: 34) e <strong>de</strong>srespeitam as regras <strong>de</strong> trânsito:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!