12.07.2015 Views

Revista de Letras - Utad

Revista de Letras - Utad

Revista de Letras - Utad

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Quando a História oficial se encontra com a Literatura 211Na crónica <strong>de</strong>ste rei po<strong>de</strong> ler-se:Foi o Con<strong>de</strong> D. Henrique ao ultramar, à Casa Santa <strong>de</strong> Jerusalém, equando <strong>de</strong> lá veio trouxe muitas relíquias <strong>de</strong> santos, entre as quais: umbraço <strong>de</strong> S. Lucas Evangelista que lhe foi dado em Constantinopla e umsaco cheio <strong>de</strong> areias fabricadas com uma pedra extraída do santo Sepulcro.(Laiginhas 2007: 18)Ora, a narrativa localiza a fonte (Crónica <strong>de</strong> D. Afonso VI), enuncia umacitação, mas não a sua situação na crónica. O conjunto das referências permite--nos corroborar um certo discurso oficial alusivo à mentalida<strong>de</strong> medieval, masnão <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> levantar dúvidas ao leitor sobre a sua autenticida<strong>de</strong> (“um braço <strong>de</strong>S. Lucas Evangelista que lhe foi dado em Constantinopla”).Quando é referido o contrato nupcial do primeiro casamento <strong>de</strong> Egas Monizcom a senhora D. Sancha Maior (no romance), o narrador refere <strong>de</strong> formairónica:A “escritura <strong>de</strong> cedência mútua” escarrapachava no pergaminho:“D. Egas Moniz haverá <strong>de</strong> cumprir, por quarenta e cinco dias, livres <strong>de</strong>abstinência, com as suas obrigações <strong>de</strong> marido cumpridor, e cumprirsempre, seja noite ou seja dia, em conformida<strong>de</strong> com as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>cumprimento da esposa, D. Sancha Maior, que, por sua vez, ficaconstrangida, em troca <strong>de</strong> tão escrupuloso cumprimento, a escriturar, adhonores, quarenta e cinco dias gastos após o início do cumprimento, todosos seus bens em nome do mencionado marido” (Laiginhas 2007: 28) 3Repare-se na utilização da forma verbal “escarrapachava” e na referência aofacto, pouco verosímil e jocoso, como “escritura <strong>de</strong> cedência mútua”, que <strong>de</strong>poisvai ter continuida<strong>de</strong> na história do romance.A citação utiliza mesmo, em alguns casos, o sinal <strong>de</strong> corte no texto, o que oaproxima ainda mais da prática da citação no discurso científico:Viajaram, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Guimarães até à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra, acorte e a cúria régia. Um cronista <strong>de</strong> então escreveu a propósito <strong>de</strong>staviagem:“(…) Dois caminhavam adiante, o terceiro levava o chapéu, o quartosegurava o capote, o quinto arrastava a cavalgadura pela ré<strong>de</strong>a, o sextocarregava a cabaça da água-<strong>de</strong>-medronho, o sétimo lia os textos sagradospara que el-rei dormisse o sono dos anjos (…)”. (Laiginhas 2007: 54)3 No discurso oficial, Egas Moniz teve dois casamentos, o primeiro com D. Dórdia Pais <strong>de</strong>Azevedo <strong>de</strong> quem teve os seguintes <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes: D. Lourenço Viegas, D. Afonso Viegas,D. Mem Viegas, D. Rodrigo Viegas e D. Hermígio Viegas; o segundo casamento efectuou-se comD. Teresa Afonso, como o romance também regista, e <strong>de</strong>le teve a seguinte <strong>de</strong>scendência:D. Dórdia Viegas, D. Soeiro Viegas, D. Elvira Viegas e D. Urraca Viegas.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!