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Revista de Letras - Utad

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A História n’ “A Inaudita Guerra” <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Carvalho 321Mário <strong>de</strong> Carvalho apresenta um acontecimento do século XII que aparececoncomitantemente com um episódio do século XX. Se é certo que aresponsabilida<strong>de</strong> da ausência <strong>de</strong> disjunção cronológica é explicada <strong>de</strong> formamística, também é verda<strong>de</strong> que, acima da distracção <strong>de</strong> Clio, está a imaginaçãodo autor… A manipulação é, portanto, notória.A tomada <strong>de</strong> Lisboa aos Mouros, em 1147, serve <strong>de</strong> leitmotiv à res fictae(ou não estivéssemos nós perante um texto literário!). O autor imagina umgran<strong>de</strong> exército árabe, em Lisboa, para um ajuste <strong>de</strong> contas com os cristãos pela<strong>de</strong>rrota sofrida:É que, nessa ocasião mesma, a tropa do almóada Ibn-el-Muftar,composta <strong>de</strong> berberes, azenegues e árabes em número para cima <strong>de</strong> <strong>de</strong>zmil, vinha sorrateira pelo valado, quase à beira do esteiro <strong>de</strong> rio que alientão <strong>de</strong>sembocava, com o propósito <strong>de</strong> pôr cerco às muralhas <strong>de</strong> Lixbuna,um ano atrás assediada e tomada por hordas <strong>de</strong> nazarenos odiosos.(Carvalho 1992: 28)Assim, com excepção do tempo manipulado e <strong>de</strong>ste acontecimento, em tudoo mais, o autor recupera elementos <strong>de</strong> índole referencial no que respeita à culturaárabe.Ad exemplum, aspectos linguísticos, como palavras do léxico “inch Allah” 15 ,“jinns” 16 , nomes próprios (Ibn-el-Muftar, Mamud Beshewer, Ali-ben-Yussuf,Ibn-Arrik 17 ), toponímia (Lixbuna, Chantarim 18 ) e formas <strong>de</strong> saudação (“Salamaleikum e Aleikum salam” 19 ).Alguns rituais da religião islâmica também estão presentes:(…) e Ali-ben-Yussuf, lugar-tenente <strong>de</strong> Muftar, homem piedoso e tementea Deus, quis ali mesmo apear-se para orar, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter alçado as mãos aocéu e bradado que Alá era gran<strong>de</strong>. (Carvalho 1992: 28)De facto, o dogma fundamental do islamismo é o seguinte: “Alá é gran<strong>de</strong> eMaomet o seu profeta” (Araújo 1983: 253) e, <strong>de</strong> entre os cinco preceitosfundamentais que os muçulmanos <strong>de</strong>viam observar, <strong>de</strong>staca-se a prece (rezarcinco vezes por dia voltados para Meca).O conhecimento da religião islâmica por parte do autor amplia-se ainda aosdogmas da fé islâmica:15 Significa: se Deus quiser.16 Significa: <strong>de</strong>mónios, espíritos.17 Forma como muitos escritores árabes se referiram a Afonso Henriques.18 Nome dado à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santarém.19 Significa: Que a paz esteja contigo.

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