Revista de Letras - Utad

392 João Bartolomeu Rodriguesestabelecidos os princípios gerais para a restauração das barras dos portosformadas nas fozes dos rios, se faz especial aplicação deles ao melhoramento dabarra do Porto. A base deste melhoramento é a igualação e colocação da margemesquerda a respeito da direita existente, por meio dos esforços da arte, parasuprimir e remediar os defeitos e desarranjos da natureza; por isso que – “adesigualdade das duas margens é o foco de onde emanam todos os males que sesofrem na barra da foz”. –O sítio da Foz é um lugar muito aprazível e muito frequentado na estaçãodos banhos, tendo fácil e pronta comunicação, quer por mar, quer por terra, coma cidade do Porto, donde dista obra de três quartos de légua, pouco mais oumenos; a população deste lugar andará por tês mil indivíduos. Na proximidadeestá colocado sobre uma altura o farol de N.ª Sr.ª da Luz. Todas estas localidadesdevem estar bem presentes na memória dos nossos leitores pelos felizes sucessosdo cerca da Cidade Invicta.A estampa que procede deste artigo é cópia de outra de um jornalestrangeiro; é porém gravada por artista português, e damos como spcimen doconsiderável melhoramento que em breve tempo adquiriu entre nós a gravura emmadeira, arte há pouco desprezada, e que já hoje esperamos ver subir ao auge daperfeiçãoA estampa, que temos à vista, foi copiada de um desenho, que o Ex. mo Dr.Manuel de Castro Pereira benevolamente nos facultou, indicando-nos o terconcedido igual favor à benemérita Associação Marítima e colonial. Dois eramos desenhos, obra do Sr. A. J. Sousa de Vasconcelos; o primeiro representando avista do estado natural do cachão de S. Salvador da Pesqueira antes da suaextinção, e tomada da parte ocidental; o segundo a que demos preferência,mostrando a vista do rio Douro no sítio do extinto cachão, igualmente tirada daparte ocidental em 1841: ambos saíram litografados e a notícia que se segue nosAnais Marítimos e coloniais, n.º 5 de 1842.A Junta da Companhia geral do Alto Douro alcançou da rainha Sr.ª D.Maria 1.ª, por avisos régios de 25 Fevereiro e 23 de Março de 1779, pelas suasconsultas de 11 de Dezembro de 1778 e 16 do mesmo mês de Março, que secobrassem 40 reis em pipa de vinho, aguardente, vinagre, ou qual quer líquido,que fosse transportada pelo rio Douro até à cidade do Porto, aplicada estacontribuição para as obras do rio: deu começo a Junta a elas pela demoliçãodalguns pontos, galeiras e cachoeiras que existiam em diversos sítios. Tentandoporem empresa muito superior, fez principiar no estio de 1780 a importante obrada demolição do temível cachão de S. Salvador da Pesqueira, próximo à ermidade Salvador do Mundo, que fica sobre o rio Douro, vinte léguas acima do Porto;ponto que se tornava inacessível à navegação do dito rio, desde o princípio dosséculos, pelo poço de mais de 60 palmos de profundidade, que ali existia cercado