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Revista de Letras - Utad

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Quando a História oficial se encontra com a Literatura 215Sigamos o pergaminho – já bastante coçado, pois todos os gran<strong>de</strong>shistoriadores <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Fernão Lopes a Damião Peres o manusearam e o leram–, com selo da chancelaria <strong>de</strong> el-rei D. Afonso Henriques:“Eu, Afonso, rei <strong>de</strong> Portugal, filho do con<strong>de</strong> Henrique e neto dogran<strong>de</strong> rei D. Afonso, diante <strong>de</strong> vós, bispo <strong>de</strong> Braga e bispo <strong>de</strong> Coimbra eTeotónio, e <strong>de</strong> todos os mais vassalos <strong>de</strong> meu reino, juro diante <strong>de</strong>sta Cruz<strong>de</strong> metal, e neste livro dos santos Evangelhos, em que ponho minhas mãos,que eu miserável pecador vi com estes olhos indignos a Nosso SenhorJesus Cristo estendido na Cruz, no modo seguinte:” (Laiginhas 2007: 78)Mais à frente lê-se:“Consentindo nisto, o Senhor disse:‘Não se apartará <strong>de</strong>les nem <strong>de</strong> ti nunca a minha misericórdia, porquepor sua via tenho aparelhadas gran<strong>de</strong>s searas, e a eles escolhidos pormeus segadores em terras muito remotas.’Ditas estas palavras, <strong>de</strong>sapareceu e, eu, cheio <strong>de</strong> confiança esuavida<strong>de</strong> me tornei para a realida<strong>de</strong>.E, portanto, mando meus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes que para sempre suce<strong>de</strong>rem,que em honra da Cruz e das cinco Chagas <strong>de</strong> Jesus Cristo tragam em seuescudo cinco escudos partidos em Cruz, e em cada um <strong>de</strong>les os trintadinheiros, e por timbre a serpente <strong>de</strong> Moisés, por ser figura <strong>de</strong> Cristo, eeste seja o troféu da nossa geração. E se alguém intentar o contrário, sejamaldito do Senhor e atormentado no inferno com Judas, o traidor.Foi feita a presente carta em Coimbra aos vinte e nove <strong>de</strong> Outubro,era <strong>de</strong> 1152.” (Laiginhas 2007: 81)Depois da ‘citação’ do documento, e ganhando uma feição <strong>de</strong> teseacadémica, o discurso <strong>de</strong> Jorge Laiginhas problematiza: “Não pondo em causa aautenticida<strong>de</strong> do documento, tampouco a chancelaria e o tabelião que oelaboraram, parece-me razoável levantar algumas questões:” (Laiginhas 2007:82). Neste caso, o leitor é chamado à atenção pela voz do Autor para a própriaatitu<strong>de</strong> paródica do texto citado.Em alguns momentos textuais, é o discurso anedótico que põe em causa adignida<strong>de</strong> oficial das figuras históricas. Assim acontece com D. Afonso VI ecom D. Diogo, futuro bispo <strong>de</strong> S. Tiago <strong>de</strong> Compostela e pai do primeiro filho<strong>de</strong> D. Teresa, D. Rodrigo.D. Afonso VI, tendo tido conhecimento <strong>de</strong> que D. Diogo era bom cantador,e ele próprio também gostar <strong>de</strong> o ser, manda chamar D. Diogo:O padre acorreu ao palácio real com o propósito <strong>de</strong> alfabetizar el-reinas artes do canto. Das crónicas <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>-se que o jovem padre saiuquase mudo dos aposentos particulares <strong>de</strong> D. Afonso VI. Ainda segundo asfontes escritas da época, o padre Diogo não mais cantou em público pelotempo <strong>de</strong> nove luas!

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