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In pulverem38 - Othoniel Menezes

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208<br />

vida sertaneja em geral –, ao senso prático do matuto que, sempre<br />

profundamente respeitoso diante dos temas relacionados com<br />

a morte, assim assegura por muito mais tempo a conservação do<br />

singelo monumento, quase sempre – antes do automóvel, já se vê<br />

– o registro anônimo de uma dessas arrepiadoras tragédias de amor<br />

ou de ódio que rastilharam de sangue as solidões nordestinas. Presta-se,<br />

também, do mesmo passo, e de acordo com o que, no momento,<br />

pode oferecer a terra comburida e desnuda, sem uma flor,<br />

um ramo verde, piedosa homenagem ao herói ou ao infeliz tombado<br />

no local.<br />

Atendendo à consulta do Autor, julga o proprietário da fazenda<br />

“Pedra e Cal”, no município de Acari, o Sr. Manoel Bezerra de<br />

Araújo Galvão Júnior (“Coquinho”), grande sabedor do folclore<br />

seridoense, que o calhau atirado ao pé do cruzeiro do caminho “é<br />

a representação de uma prece”: sem tempo para debulhar o Padre-Nosso<br />

ou a Oração das Almas, desobriga-se o passante, mais<br />

praticamente, jogando sobre o cantinho onde repousam as cinzas,<br />

ou onde caiu o ignoto mártir, o seixo 67 dinamizado esotericamente<br />

pela intenção devota. Condiz, essa opinião, com o que, a respeito,<br />

em Viagem ao <strong>In</strong>terior do Brasil, registrou Georg Wilhelm Freireyss, 68<br />

citado por Câmara Cascudo, em Antologia do Folclore Brasileiro, página<br />

64: “O costume de se levantar uma cruz em cada lugar onde<br />

se encontra um cadáver, qualquer que seja a causa da morte, com<br />

o fim de fazer os transeuntes completarem o número de padresnossos<br />

necessários para resgatar do purgatório a alma de quem<br />

aqui morreu sem absolvição”.<br />

Atualmente, quando a rodagem está assinalada por centenas de<br />

cruzes, fincadas quilômetro a quilômetro, testemunhando, melancolicamente,<br />

o que o aceleramento da “cultura americana” está<br />

custando aos sertanejos (desminta-o, quem estiver acostumado a<br />

percorrer o interior), já não seria possível ao viajante pensativo

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