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In pulverem38 - Othoniel Menezes

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822<br />

homem cujo talento não encontrou estímulo, antes e depois de se<br />

manifestar, no meio em que sempre foi um indesejável, um<br />

inadaptado, um espoliado (esta é a tarefa da justiça histórica, da<br />

moral sociológica) e, sim, captar, receber em espírito e verdade a<br />

beleza da mensagem que ele nos transmitiu – a volta ao natural, o<br />

culto da terra fecunda, a presença da paisagem ridente, a alegria<br />

de viver o amor sem ironia e sem artificialidade, interpretados<br />

com a mais profunda e cordial efusão de um ego pletórico de<br />

comunicabilidade e simpatia, visceralmente rousseauniano, enamorado<br />

da Natureza.<br />

Esta, segundo Novalis, 209 pode ser comparada a um instrumento<br />

cujos sons correspondem, todos, a outras tantas cordas secretas,<br />

que vibram em nosso coração. E não foi mais longe, ainda,<br />

Tolstoi, 210 observando que tudo que há de mau no coração humano<br />

deve desaparecer ao toque da natureza, essa expressão imediata<br />

do belo e do bom?<br />

E o coração de Ferreira Itajubá foi uma vibração perpétua,<br />

melodia virgiliana, ressonância de ária pastoral, evocação dionisíaca<br />

sobre a paisagem florescida, sobre o mistério melancólico da anima<br />

rerum 211 circundante.<br />

Como Dom Quixote na sua invencível lança, não só acreditava,<br />

fanaticamente, na poesia. Viveu mergulhado nela. Cigarra, ela<br />

foi seu dia de verão dourado, água-viva para o peixe, céu para a<br />

andorinha boêmia, luz para a clorofila, noiva para a saudade, mangueira<br />

em flor para a canção do sabiá.<br />

Por força de misteriosa fatalidade, selo psíquico da infinita,<br />

progressiva revivescência dos avatares no planeta, e a que os hindus<br />

chamam de carma, 212 nasceu marcado por aqueles belos estigmas<br />

imponderáveis que, em Tonio Kröger, identificou Thomas Mann 213<br />

em certos aspectos particulares da fisionomia do poeta – facilmente<br />

reconhecível, entre os outros homens “como um príncipe<br />

no meio da multidão”...

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