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In pulverem38 - Othoniel Menezes

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588<br />

Deus te guie, zelação, alma penada,<br />

zumbi zonzo zebrando com a azagaia azarada<br />

o lajedão de ardósia da noite mal-assombrada!<br />

Por sinal que, um dia, meio adormecido<br />

no colo quentinho de Maria Isabel<br />

de quem por faz-de-conta era então o marido<br />

(ela me contava que histórias tão lindas com a sua<br />

voz de aluá e de mel!)<br />

– Deus te guie zelação! alinhavando o sinal-da-cruz<br />

uma ponta da estrela (aquela não soçobrara de vez)<br />

cegando tudo, de tão clara!<br />

espetando no ar<br />

– uma vinheta preta no vitral medieval da lua cheia –<br />

o bojo bambo de uma baleia<br />

com os contornos azuis,<br />

as barbatanas a vibrar<br />

gotejando pérolas, estalactites, de algas pálidas<br />

como crisálidas,<br />

escorrendo luz...<br />

Lá correu agora uma, devagar... devagar...<br />

Úmida e quérula, 82<br />

trêmula, lívida,<br />

tépida lágrima deslizando no crepe de um caixão...<br />

Deus te guie, visagem de minha dolorosa dívida,<br />

zumbi de Maria lsabel minha primeira paixão!

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