14.04.2013 Views

In pulverem38 - Othoniel Menezes

In pulverem38 - Othoniel Menezes

In pulverem38 - Othoniel Menezes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

54<br />

vai vivendo e esperando que alguma coisa divina aconteça..."<br />

(Borges).<br />

Linda e pobre terra, a nossa "iara morena, pulando na água<br />

serena do Potengi, a cantar"...<br />

Muita água no velho rio desceu, o tempo rodou e, vamos e<br />

venhamos, <strong>Othoniel</strong> <strong>Menezes</strong> – o parnasiano, o modernista, o<br />

jornalista, o ensaísta, o prosador, o etnógrafo, o folclorista, o crítico<br />

–, hoje, salvo para poucas pessoas, é apenas mais um nome de<br />

rua na Limpa dos Santos Reis. E apelido de prêmio de poesia da<br />

Prefeitura de Natal, só isso. Seus livros publicados foram poucos<br />

e, agora, são muito raros. O rio da sua canção, lá bem perto da<br />

ruazinha modesta, está poluído pela imundícia dos esgotos; o prêmio,<br />

temporariamente cassado pela pequenez cerebral da atual<br />

administração, entregue às baratas e borboletas viageiras.<br />

Seu nome, Papai, sob outro ângulo, é sempre lembrado pelo<br />

povo, ricos e pobres, quando se canta a "Praieira". Essa minha<br />

"irmã mais velha" que, aos oitenta e oito anos, permanece formosa,<br />

vetusta senhora, hino da terra, bela canção – "feita às pressas<br />

para homenagear humildes pescadores". Continuou, a modinha -<br />

sua e de Eduardo Medeiros –, fiel à premonitória nota de pé de<br />

página, de 1923, no Jardim Tropical, vaticinando a tal "ilusão efêmera<br />

da popularidade".<br />

Guimarães Rosa dizia: "Eu quase que nada não sei. Mas desconfio<br />

de muita coisa". Pois é, Papai, quem desconfia agora sou<br />

eu, "a coisa aqui tá preta", como diz aí por cima, na epígrafe, o<br />

filho de Sérgio Buarque de Holanda, aquele jovem que, na televisão,<br />

nos tempos da ditadura – aquela, infelizmente, que o senhor<br />

não lhe viu o fim – cantava "Pedro Pedreiro" e o chorão da "Praieira"<br />

chorava baixinho, fazendo chorar sua Maria, os dois na salinha<br />

modesta do apartamento do Catumbi.<br />

Aqui, há muitas exceções, honrosas, decentes, mas a coisa, no<br />

geral, no picollo mondo, "tá preta" mesmo no ensino (de todos os

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!