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In pulverem38 - Othoniel Menezes

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212<br />

que o cavalo não caia, nem que salte um riacho cheio<br />

(Câmara Cascudo, ensaio citado).<br />

O aboio ecoa...: O aboio é uma espécie de toada, canto<br />

interjetivo, lentamente modulado em tons menores, de letra<br />

indistinguivel, sempre improvisado, longo e triste, e a cujo som<br />

toca o vaqueiro a boiada.<br />

A toada plangente do aboiar, dizem os vaqueiros, tem<br />

a propriedade de “humanizar” (amansar) o gado, tornando-o<br />

triste e cismarento. Às vezes, até lhe escorrem<br />

dos grandes olhos baixos, grossas lágrimas vagarosas...<br />

(Gustavo Barroso, Terra do Sol, página 54).<br />

Poetizou-o, superiormente, o querido e inesquecível mestre<br />

de Vibrações, H. Castriciano:<br />

Ah! Como é triste o aboio! Ah! Como é triste o canto<br />

sem palavras, tão vago! – a saudade exprimindo<br />

das seivas do sertão, no mês de junho rindo...<br />

Essa magoada voz que acorda as soledades,<br />

Essa trêmula queixa é o gemido e o brado<br />

De uma raça infeliz, cujo longo passado<br />

Simboliza o clamor da miséria e da fome,<br />

Procurando exprimir tanta mágoa sem nome.<br />

A voz do sertanejo, ansiando de saudade,<br />

Nessa triste canção, doce como uma prece,<br />

Cuja letra ninguém adivinha ou conhece,<br />

Mas cujo pensamento, ungido de emoção,<br />

Se coubesse num ritmo, era o do coração.<br />

Quantas vezes, ouvindo Felinto aboiar, me tenho lembrado<br />

do alvoroço da terra nas primeiras chuvas, do<br />

rumorejo dos rios cheios, da verdura repentina dos<br />

campos e das serras, do canto dos sapos festejando as

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