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In pulverem38 - Othoniel Menezes

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Manoel Rodrigues de Melo, procurou <strong>Othoniel</strong> para pedir-lhe os originais<br />

de Sertão de espinho e de flor para publicação. A iniciativa foi dele, do<br />

deputado. OM nunca lhe pedira coisa nenhuma. E Aluízio nada lhe devia,<br />

a não ser os votos para a Constituinte, dele, poeta, e da sua Maria da<br />

Conceição, a companheira de todas as horas.<br />

Em poucos dias, o prefácio, de Câmara Cascudo, estava pronto. Faltavam<br />

algumas notas aos Cantos do longo poema. Sem máquina de escrever em<br />

casa, o autor da "Praieira" desdobrava-se nos dois expedientes de<br />

"Parnamirim Field", gastando papel e carbono dos americanos, para atender,<br />

exultante, o pedido do "amigo" parlamentar. Revisões e mais revisões,<br />

feitas à noite, na casa modesta da rua Felipe Camarão, muito café, vigília de<br />

Maria, muito cigarro Iolanda – e "o sangue e o suor do Pensamento!" (Ver o<br />

último terceto do soneto Os Burros, em Desenho animado, neste volume).<br />

Enfim, satisfeito, entregou os originais a Aluízio Alves, em mãos.<br />

Manoel Rodrigues espalhou a notícia. Congratulações, apertos de mão,<br />

batidinhas nas costas do Poeta. Afinal, o livro – prometera solenemente<br />

Aluízio – seria editado pela José Olympio, coisa chique. A Casa José<br />

Olympio era uma das principais editoras do Brasil, lançando títulos e<br />

autores que fizeram a história da nossa literatura. Lá ganharam abrangência<br />

nacional Jorge Amado, Sérgio Buarque de Holanda, Rubem Braga, Guilherme<br />

Figueiredo, Gilberto Freire e quase todos os clássicos brasileiros.<br />

E as ilustrações? Ah! Os desenhos seriam da lavra de Luiz Jardim, artista<br />

de – nada mais, nada menos – "renome internacional". Nos cafés da Tavares<br />

de Lira e da Doutor Barata, de Zé Areia ao Dr. Eutiquiano Reis, a novidade<br />

era comentada, com largo ufanismo papa-jerimum. OM, modesto, calado,<br />

arredio, sempre ao largo das patotas e das igrejinhas dos cafés, esperava,<br />

ansioso e confiante. O último título que publicara (Jardim tropical – ver<br />

neste volume) datava de 1923, vinte e dois anos decorridos.<br />

Aluízio Alves, recebido o livro, meses depois, desapareceu do mapa, tomou<br />

chá de sumiço! De vez em quando, um ano sim, outro não, mandava<br />

recados, mensagens. Nada por escrito, comprometedor, uma carta, um<br />

cartão, um bilhete sequer. Por mensageiros, mandava dizer que "a coisa<br />

estava indo, caminhando". Caminhando e indo coisa nenhuma, nada,<br />

bulhufas, brisa.<br />

TINHA PERDIDO O LIVRO, soube-se, muito depois! E, já importante,<br />

no Rio, reeleito, brilhando na Câmara e na imprensa carioca, não quis, não<br />

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