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In pulverem38 - Othoniel Menezes

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Ousadia maior não poderia haver: tido e havido nos meios literários<br />

como um poeta de cultura refinada, <strong>Othoniel</strong> <strong>Menezes</strong> produz<br />

em Sertão de espinho e de flor uma paráfrase da fala sertaneja,<br />

que ganha corpo através de sextilhas septissilábicas, conforme registra<br />

Luis da Câmara Cascudo no texto “Ecce Homo”, com que<br />

apresenta o livro. Significa dizer: aquele eu-lírico que primava pelo<br />

verso resultante de um trabalho idêntico ao de escultor ou ourives,<br />

assume agora corajosamente o tom monótono da cantoria<br />

agreste e bela com que os poetas populares fertilizam o sentimento<br />

sertanejo. Obviamente, um desafio assim, só poderia ser encarado<br />

por um poeta assim, tão corajoso. Sabendo que corria riscos,<br />

ele habilmente muniu-se de inúmeras citações, fazendo quase todos<br />

os dezesseis poemas serem precedidos de epígrafes de Euclides<br />

da Cunha. Esta escolha tem, digamos, um peso certamente simbólico:<br />

o autor de Os Sertões era igualmente talentoso e contraditório,<br />

tanto que para produzir sua obra-prima (também desafio interminável<br />

para crítica e leitores) obrigou-se a refazer sua própria<br />

visão de intelectual republicano. E o seu trabalho magistral resultou<br />

numa obra compósita: relato de guerra, ficção, história, tratado<br />

científico, etc.<br />

Portanto, não sendo por definição um poeta popular, <strong>Othoniel</strong><br />

<strong>Menezes</strong> enfrentará um problema logo visível ao leitor arguto que<br />

é, claramente, a já sabida tentação romântica indisfarçável em certos<br />

versos. Mas aqui é possível assinalar um aspecto que o favorece:<br />

ao cantador, ao poeta popular, fascina a linguagem empolada, o<br />

tom gongórico, a hipertrofia utilizada para descrever certas situações.<br />

E isso decorre, não chega a ser nenhum segredo, do diálogo<br />

permanente, do intercâmbio que se verifica entre a cultura<br />

popular e a outra, de natureza erudita. E mesmo Euclides, também<br />

ele, valeu-se da hipérbole, da antítese, do oximoro.<br />

Constatações essas que apontam para nossa tendência ibérica a<br />

um certo barroquismo lingüístico que, afinal, diz muito bem so-<br />

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