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In pulverem38 - Othoniel Menezes

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pai do professor Cláudio Galvão – este, escritor e pesquisador emérito;<br />

Deoclécio Sérgio de Bulhões, homeopata, homem boníssimo e caridoso<br />

que mais tarde seria vereador em Natal, por muitas legislaturas; Agenor<br />

Ribeiro, depois empresário; Rômulo “Minha gata” que, deixando<br />

Parnamirim, foi para o Banco do Brasil; Emanuel Rivadávia, também, posteriormente,<br />

servidor do BB, no México e nos Estados Unidos. Fluente<br />

em inglês, traduziu e leu para o general Eisenhower, em 1945, um discurso<br />

escrito por <strong>Othoniel</strong>, saudando o futuro presidente dos Estados Unidos,<br />

em nome do pessoal civil da Base. Misturando-se a essa boa gente,<br />

para lá também acorreram alguns “artistas” do Grande Ponto, filhinhos de<br />

papai, arranhando inglês, charlando, dançando fox no Aero, bodando na<br />

praça Pedro Velho.<br />

Na sopa (ônibus), guiada por “Charuto”, negão forte e valente, embarcava<br />

o pessoal na Pracinha (“Pedro Velho”, hoje “Cívica”) e embiocava na<br />

“Parnamirim Road”, a “Pista”. Fazia pit stop no portão da Base, ia em frente<br />

e deixava os “porcos” no Post of Engineers.<br />

“Porco”, era o apelido dado aos funcionários subalternos, operários, que<br />

viajavam nas carrocerias dos caminhões – alcunha que depois se generalizou.<br />

De Natal à Base, no ônibus, não viajando criança ou mulher – o que<br />

era raro – a esculhambação era grossa. Vida alheia, anedotas cabeludas,<br />

acenos para as peniqueiras no trajeto, algazarra, esbórnia total.<br />

<strong>Othoniel</strong> <strong>Menezes</strong>, arredio, desconfiado, da raça irritável dos poetas, como<br />

afirmava Virgílio, somente com os mais íntimos trocava piadas. Era sofrido,<br />

pobre – mas, altivo, culto e probo. Jornalista de renome, secretário do<br />

jornal A República, amigo de Café Filho, socialista, admirador de Luiz Carlos<br />

Prestes, escrevera em 1935, praticamente sozinho, o jornal A Liberdade. Tachado<br />

de “comunista”, passou quase três anos na cadeia. Em Parnamirim,<br />

não ligava para o apelido de “Ipecacuanha” (tinha mania por chá caseiro!).<br />

Deu o troco ao autor da proeza, o colega Deoclécio Bulhões, caridoso<br />

esoterista e homeopata, que tinha uma imponente trunfa: sapecou-lhe a<br />

alcunha de “Professor Bendengó”! Prudente, o vate guardava distância dos<br />

“artistas” do Grande Ponto, alguns deles, até, filhos de amigos e parentes.<br />

O diabo, porém, atenta! Quando não dá o ar da graça, de corpo presente,<br />

manda um secretário. Um belo dia, na rebarba de uma daquelas algazarras,<br />

do fundo do coletivo, ouviu, clara e maliciosa, a acaçapante e maldosa<br />

agressão: “<strong>Othoniel</strong>, poeta da camisa rasgada!”

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