14.04.2013 Views

In pulverem38 - Othoniel Menezes

In pulverem38 - Othoniel Menezes

In pulverem38 - Othoniel Menezes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

346<br />

vez por outra, noticiam a descoberta de plantações de maconha em terras<br />

potiguares, no Seridó e no Alto-Oeste. Essas lavouras teriam surgido, dizem<br />

os entendidos, por conta do assédio da Polícia Federal aos latifúndios do<br />

chamado Polígono – ou Triângulo – da Maconha, nos cafundós de<br />

Pernambuco, ribeiras do São Francisco. A atividade, hoje, o plantio, o<br />

canhameiral, pode ser até novidade para os nossos sertanejos. O uso da<br />

droga – sempre pernicioso – é secular. A “erva maldita”, veladamente, por<br />

baixo do pano, sempre esteve presente nos sertões nordestinos. Graciliano<br />

Ramos, escrevendo o Linhas Tortas, em Palmeira dos Índios, no sertão das<br />

Alagoas, afirmava que “nas cidades os viciados elegantes absorvem o ópio, a<br />

cocaína, a morfina; por aqui há pessoas que ainda usam a liamba”.<br />

Nunca misteriosa, sempre perigosa e deletéria, a maconha, noutra modalidade<br />

de uso, recebeu na Arábia o nome de haxixe. É a resina, a cera<br />

extraída das flores e dos frutos (belotas). Homero, falando da embriaguez<br />

a que se entregavam os citas, faz alusão à inalação dos vapores do cânhamo.<br />

Os orientais (e muito buona gente em Natal, diga-se de passagem) servemse<br />

do haxixe (de alto preço) pitando o narguilé – cachimbo composto de<br />

um fornilho, um tubo e um vaso cheio de água perfumada, por onde<br />

atravessa a fumaça antes de chegar à boca do usuário.<br />

Mil anos a.C., os hindus já consideravam o cânhamo como planta sagrada,<br />

havendo, no Rig-Veda, alusão a respeito. Charas, na Índia, é, também,<br />

sinônimo de costume. Notável, curioso, é que, no Brasil – e aqui mesmo,<br />

na Cidade dos Três Reis, nas comunidades periféricas, nas reuniões dos<br />

“intelectuais” modernosos e emproados, dos artistas “performáticos”, dos<br />

poetas de vários calibres e segmentos, nos condomínios de luxo ou no<br />

Beco da Lama –, qualquer dependente da maconha, com ou sem leitura,<br />

ocupantes ou não de polpudos cargos comissionados no serviço público,<br />

sabe que um chara equivale a um longo, grosso, substancial “canela-deanjo”,<br />

um “cheio”! E a apologia da liamba corre frouxa, na Potiguarânia –<br />

mais das vezes, até, amparada, a título de produção cultural, pelo dinheiro<br />

de todos nós. Novidade não é que uma grande parte da hodierna<br />

intelligentzia do Rio Grande Sem Sorte, além da liamba, faz “clínica geral”,<br />

“inspirando” as raras cacholas, também, nos eflúvios dos chás de cogumelo,<br />

de zabumba (Figueira do <strong>In</strong>ferno, Maminho Bravo, Trombeta, Dabumba,<br />

Aubatinga-dos-<strong>In</strong>dios, Erva-dos-Mágicos, Erva dos Feiticeiros, Erva do<br />

Diabo, Erva dos Demoníacos) e da “hostil e mimosa” Jurema-Preta.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!