14.04.2013 Views

In pulverem38 - Othoniel Menezes

In pulverem38 - Othoniel Menezes

In pulverem38 - Othoniel Menezes

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Vilipendiado, trêmulo, em cima da bucha, levantou-se e partiu pra briga.<br />

Era homem de coragem comprovada. Não conseguiu chegar à patota. Os<br />

amigos não deixaram. A cotiada camisa que vestia, cerzida e passada, engomada,<br />

pelas mãos da sua Maria, era tão-só o espelho da sua pobreza respeitável<br />

e resignada. Não lhe pisassem! Não conseguiu identificar o autor da<br />

agressão gratuita. Nunca soube quem foi, nunca lhe disseram.<br />

Minutos depois, já no Post of Engineers, ainda pálido, calado, à vista dos<br />

companheiros solidários, sentou-se à mesa e, a manuscrito, em letras<br />

garrafais, numa folha de cartolina made in USA – depois afixada no Quadro<br />

de Avisos – fulminou o gaiato:<br />

A camisa rota, oh corno,<br />

e tal qual só você viu,<br />

foi de uma foda no torno<br />

com a puta que lhe pariu!<br />

“Ipecacuanha”, então, esboçou um acanhado sorriso para o futuro vereador<br />

– o “Professor Bendengó” – e encerrou, para sempre, “o assunto”.<br />

8 João Fonseca e Celso da Silveira enganaram-se. O “alvo” de OM não era, à<br />

época, o futuro escritor e musicólogo. O Gumercindo era outro, sujeito<br />

muito gordo e avermelhado, chefe dos bombeiros (encanadores) do Posto<br />

de Engenharia da Base Aérea. Sobre Saraiva, ver nota, em Sertão de<br />

espinho e de flor.<br />

9 O poema de Drummond: “A língua lambe as pétalas vermelhas/ da rosa<br />

pluriaberta; a língua lavra/ certo oculto botão, e vai tecendo/ lépidas<br />

variações de leves ritmos./E lambe, lambilonga, lambilenta,/E lambe,<br />

lambilonga, lambilenta,/a licorina gruta cabeluda,/ e quando mais<br />

lambente, mais ativa,/ atinge o céu do céu, entre gemidos,/ entre gemidos,<br />

balidos e rugidos/ de leões na floresta, enfurecidos”.<br />

10 <strong>In</strong>ácio Meira Pires (Ceará-Mirim/RN, 15.03.1928-Natal/RN,<br />

18.11.1982). Ator e teatrólogo. Diretor, por longos anos, do então Teatro<br />

Carlos Gomes, em Natal. Mudou o nome da casa de espetáculos para<br />

Teatro Alberto Maranhão. Participou do Conselho de Cultura do Estado<br />

e da Academia de Letras. Por breve tempo, chegou a ser diretor do Serviço<br />

Nacional de Teatro.<br />

11 Publicado em 1952, com impressão da Tipografia Vilar, Natal.<br />

919

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!