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In pulverem38 - Othoniel Menezes

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nos alicerces do Hotel Rambouillet 125 pedrovelhista. Francisco Pereira<br />

126 e Augusto Leite, 127 poetas ambos: o primeiro ainda vivo,<br />

residente no Rio, é autor dos aplaudidos, canoros Sonetos Amazônicos<br />

e, Augusto, uma alma de cecém 128 dos vales, perfumando um<br />

caráter adamantino, mártir da vida sedentária e azucrinada da tipografia<br />

de caixetas, antes da luz elétrica e do linotipo, autor da<br />

imortal modinha “Profundo dissabor me envolve a vida”.<br />

Mais tarde, e ainda sob o prestígio eletrizante desses signos<br />

criadores que sazonavam a atmosfera da província, floresceram<br />

Gothardo Neto, 129 Ponciano Barbosa, 130 Murilo Aranha 131 (estes,<br />

esperando tranquilamente nos seus túmulos, a justiça da posteridade),<br />

e mais outros, todos eles aclamados, integrados na elite<br />

citadina, a não ser os que, voluntariamente, dela se conservavam<br />

segredados. Era o caso de Gothardo Neto, que um amor contrariado<br />

por preconceitos de família transformara em cenobita, 132 escondido<br />

em casa do pai, 133 onde constantemente lhe chegava a<br />

manifestação do carinho popular, em pedidos de sonetos para festas,<br />

de crônicas – belas crônicas, num vernáculo de boa veia metálica,<br />

sonoro e parecendo trabalhado em prata –, para os numerosos<br />

pequenos periódicos literários e humorísticos; de discursos<br />

que ele, estacionada a multidão das passeatas diante da hoje<br />

legendária casinha da Rua do Quatorze, 134 pronunciava da janela,<br />

barba hirsuta como a de um pastor macedônio, trêmulo, pálido, a<br />

agitar a mão translúcida, envergando um roupão de chita estampada<br />

– ídolo indiscutível da mocidade estudiosa desse tempo.<br />

Era Natal, assim, verdadeiramente, por força de tanto progresso,<br />

daquela imigração ilustre, e dessa dinâmica agitação cultural,<br />

desse ritmo vital de seleção e de estímulo, a “Esquina do Mundo”,<br />

muito antes do crisma que a literatura de guerra, por outros motivos<br />

infinitamente menos propícios, lhe arranjou. A literatura; e<br />

a ironia, que tantas vezes acerta.<br />

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