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In pulverem38 - Othoniel Menezes

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põe ele, vê-se que por mera intuição, significado muito mais lato,<br />

neológico; certas construções sintáticas, amiúde empregadas –<br />

no verso ou na prosa; um conjunto elocutivo tendendo ao modismo<br />

a uma espécie de argot 192 perifrástico, de lógica e arquitetura<br />

aqui e ali espantosamente rebeldes ao Corpus Juris 193 acadêmico,<br />

mas revelando material riquíssimo, garimpado a mancheias à orla<br />

da opulenta mina de ouro e pedraria do idioma. Barulho de lapinha<br />

e serenata, no ateneu da Semântica. Uru 194 cheiroso, tecido de<br />

espatas 195 de coqueiro ainda úmidas, e repleto de frutas silvestres<br />

– rubi das maçarandubas, ônix das guabirobas, topázio nas ameixas,<br />

guajirus 196 de ametista queimada – , cachos dourados a reluzir,<br />

espigas túrgidas como seios pubescentes, indo da roça fecunda,<br />

sob o frêmito germinal das madrugadas, entre cantigas e risos,<br />

“na tapada de Damião de Góis”...<br />

Coisas que podem estar à margem da Arte com “A” maiúscula,<br />

à margem da Gramática cinerária 197 e tardigrada 198 dos medalhões;<br />

mas que estão, indiscutivelmente, dentro da Poesia – com o seu<br />

sadio nativismo, com a sua cardial, tenaz rusticidade, vibração<br />

poderosa, contribuição criadora do gênio, inestimável aquisição<br />

para o patrimônio do nosso espírito, sangue jovem na dessorada 199<br />

fibra lírica do nosso parnasianismo, do nosso classicismo mimético<br />

e livresco.<br />

Tudo, enfim, novo e belo, original, revolucionário – sem que<br />

ele soubesse ou quisesse – e quando ainda tão quente, em todo o<br />

Brasil, a influência de Castro Alves, que a tantos talentos algures<br />

fecundou, concomitantemente forçando a se revelarem tantas<br />

mediocridades incapazes de sobrevoar a cerquinha de melão-desão-caetano,<br />

o muro de cacos de vidro da província.<br />

Tudo que, antes dele, não tivemos a coragem – nem a felicidade<br />

– de dizer, nós outros, poetas ditos cultos, prisioneiros dos<br />

belos vocábulos, epígonos atormentados do velho diabo-artesão<br />

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