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In pulverem38 - Othoniel Menezes

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Natal, morta de saudade aqui, entre as floridas laranjeiras e rosais<br />

da mãe do poeta, enquanto ele, na reencarnação quimérica de<br />

um marujo de Loti 156 ou Bernardin de Saint-Pierre, 157 por climas<br />

alheios, num veleiro batel, fundia em canoros alexandrinos, a escorrerem<br />

lágrimas como a proa do barco fantástico a água amarga<br />

das ondas, a odisséia pungente.<br />

Uma quadra assim, desarraigada do pobre coração a sangrar,<br />

quando na mansarda soturna, já sem o consolo da presença materna,<br />

mensagem povoada de meigos abantesmas 158 doloridos, tímida<br />

purpuresce 159 a evocativa madrugada das horas amenas, e a<br />

lua sobe, oeil d’immemorial ennui, 160 desfigurada na sua palidez<br />

shakespeariana, “como se tivesse erguido de uma moléstia”:<br />

Corre, pranto invernoso! orvalha a grade<br />

Da solidão do meu viver incerto!<br />

Como sangra o punhal desta saudade!<br />

– que mal me fez este postigo aberto!<br />

E, tudo isso, impregnado de constante indefinição plástica,<br />

impreciso, flutuante, perispírito 161 de uma poética virtualmente<br />

vigorosa e original, a que sua deplorável carência de cultura lhe<br />

impediu desse corpo hígido e harmonioso, comunicasse a essas<br />

descrições certo objetivismo, viável mesmo através do seu permanente<br />

orgasmo romântico, objetivismo que à sua obra teria<br />

conferido valor folclórico.<br />

Mas, quão sensível, a beleza e a novidade dessa poética, na evidência<br />

do tônus pessoal, seiva de mata virgem quintessenciada em<br />

aromas vagantes, espinho cheirando a flor, obrigando a reações de<br />

alarme a viciada glândula olfativa do mais presto em captar a presença<br />

de qualquer das tinturas arcádicas, de exportação peninsular,<br />

e que até então andavam almiscarando a lírica indígena! Gênio<br />

telúrico, a expluir 162 em estro imaginativo, colorido vibrante,<br />

dulcíssimo amavio vernacular, perfumado de reminiscências bíblicas;<br />

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