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In pulverem38 - Othoniel Menezes

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Chegado ao país dos lotófagos, 214 o peregrino, em participando<br />

da alimentação dos nativos, irremissivelmente, e aos poucos,<br />

esquecia a pátria. A flor feiticeira do Ideal, que sustenta a chama<br />

interior, na vida diferente aos sonhadores, fá-los distanciarem-se<br />

da terra, das realidades e condições imediatas dentro das quais<br />

tem todo mortal comum de atuar, como o ladino Jacó das Escrituras,<br />

215 para o granjeio 216 das lentilhas...<br />

Estar em presença de Manoel Ferreira – indiquemo-lo agora,<br />

pelo patronímico popular entre os da sua convivência ordinária,<br />

o nome do “conhecido da rua”, resumo do melancólico<br />

inexpressivo ou das dramáticas contradições do registro civil, do<br />

Itajubá terra-a-terra, do viciado no vulgar dos gestos e do vocabulário,<br />

sem nada do sortilégio daquela homonímia ilustre da qual<br />

jamais se apercebeu (chamava-se Manoel Virgílio Ferreira Itajubá)<br />

– estar em presença dele, dizíamos, era encontrar a Poesia. Sentir<br />

a sua transubstanciação, o prestígio da sua estuante e irradiadora<br />

potencialidade, revelada sensivelmente no indivíduo prosaico e<br />

tangível.<br />

Se quiséssemos concordar com os que consideram essa identificação,<br />

por assim dizer somática, esse metamorfismo eufórico entre<br />

a poesia e o poeta, o grande empecilho ao triunfo na luta econômica,<br />

ipso facto 217 na vida social, poderíamos dizer que a poesia o<br />

devorou.<br />

Amável passatempo, pecado de mocidade de bissextos (os que,<br />

na famosa descoberta de Manuel Bandeira, apenas perpetraram<br />

um ou outro poemazinho inofensivo, na vida), é ela uma túnica de<br />

Nessus, 218 para quem lhe fizer o sacerdócio. Flor venenosa,<br />

drósera 219 infernal, tentadora na magnificente coloração das pétalas,<br />

irresistível na suavidade oriental do perfume, mas escondendo,<br />

no dulçor do nectário, a alma astuta de Lucrécia Bórgia. 220<br />

Itajubá, poeta trezentos por cento – perdoem-me os tubarões<br />

da praça esta alusão, sem eiva de malícia, à sua nobre arte de pros-<br />

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