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In pulverem38 - Othoniel Menezes

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conforme dizia com a sua dilacerante experiência de convívio<br />

com as feras humanas, Augusto dos Anjos, ainda aduzindo uma<br />

escusa biológica para a malvadez dos que te apodavam de “poeta”!<br />

Foste derrotado na praça, entre os sub-homens do acerbo<br />

ironista de Espectros, por que não trocaste tuas barras de ouro pelas<br />

moedinhas de cobre que eles fazem circular, no câmbio da<br />

exaltação das mediocridades bem-aventuradas. Mais a hora dos<br />

Poetas chegará. O Dinheiro não pode salvar o mundo. E vale a<br />

pena ir passando fome. Sursum corda! 317<br />

Caído em extrema penúria, ao cabo de sofrimentos físicos e<br />

morais incomportáveis; egresso do presídio, onde diariamente<br />

provou o chicote dos guardas, “expiando por toda a humanidade”,<br />

conforme confidenciou a Cécile Sorel, 318 o incomparável lapidário<br />

de O Retrato de Dorian Gray foi levado, pelos últimos devotos, a um<br />

dos mais luxuosos nosocômios de Paris. Moribundo, apático, ruína<br />

lancinante do maravilhoso espírito que encarnara o Vivian de<br />

A Decadência da Mentira, 319 a olhar em roda os cristais, os imaculados<br />

reposteiros de linho, o brilho e o grande ar de conforto burguês,<br />

do leito em que jazia, ele, que fora o mais festejado, o mais invejado,<br />

o mais impertinente dos dândis da pátria de Brummel, 320 gravando<br />

nas vitrinas das joalharias, com o diamante do anel, os nomes<br />

das arquiduquesas conquistadas, exclamou, dolorosamente:<br />

“Morro como sempre vivi: acima das minhas possibilidades...”.<br />

Viveu, e morreu, infinitamente abaixo das suas possibilidades,<br />

antítese enervante, o Bernardim 321 potiguar.<br />

Tinha também amigos, como aconteceu à onça da gostosa inventiva<br />

humorística de Péricles Maranhão. 322 Que o não cercaram,<br />

na hora trágica da adversidade; não o levaram a nenhum hospital<br />

onde houvesse morrido como Wilde. Amigos, daqueles, nos<br />

Quatrains Moraux que Guy de Faur, senhor de Pibrac, 323 comparava<br />

a melões: 324<br />

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